quinta-feira, janeiro 08, 2009

Em conversa: Simon Bookish (3/3)

Concluimos hoje a publicação da versão integral de uma entrevista com Leo Chadwick, sobre o seu alter-ago pop Simon Bookish, publicada no DN a 24 de Dezembro de 2008.

Sente que caíram de vez as barreiras que em tempos separaram a cultura pop de músicos com escola clássica. Podemos juntar ao seu caso nomes como os de Kelley Polar ou Owen Pallett, entre outros mais...
Uma das coisas que esperava alcançar com este disco era o reflectir sobre a forma como não podemos fugir a toda a informação que hoje temos no mundo à nossa volta. É impossível que haja um músico na área da clássica que nunca tenha ouvido música pop. Assim como é impossível haver um músico pop que não tenha tido a oportunidade de ouvir música clássica do século XX... É uma música que está por aí. Está disponível... Há de facto, hoje, vários músicos com um treino clássico a fazer música pop.

Chegou a trabalhar com Patrick Wolf, que a dada altura também sentiu a necessidade de estudar música...
Há algum tempo. Somos amigos... Fiz trabalho no seu primeiro álbum... Desde o principio ele estava a ouvir música clássica e pop ao mesmo tempo. Não é uma atitude artificial. É natural. É, apenas, música!

Que artistas o levaram a querer fazer música pop?
É difícil... Quando saí da universidade estava a trabalhar em peças bastante elaboradas, para orquestra. Eram difíceis de tocar... E era difícil arranjar quem as tocasse. Uma das razões porque criei a personagem de Simon Bookish foi para poder tocar eu mesmo a minha música. O mais imediato a fazer era cantá-la... Não foi uma opção para fazer música pop. Foi mais para fazer música que eu mesmo pudesse tocar. E aconteceu que dei por mim a fazer música pop...

Quem admira na música pop?
David Bowie é um artista infinitamente fascinante para mim. Gosto da forma como ele é incansável... O seu trabalho no final dos anos 70 tornou-se muito importante... Aquilo já não era bem música pop... São esses os artistas que me interessam. Tal como Scott Walker. Artistas que procuram ir em frente, que desbravam terreno. Como Laurie Anderson...

Trabalhou com bandas como os Franz Ferdinand ou St Etienne. Como recorda essas experiências?
Diferentes a todos os momentos. Os St Etienne tinham um conhecimento tão grande sobre música! É interessante trabalhar com pessoas como eles, que estão sempre abertos a experimentar novas ideias a todo o momento. Os Franz Ferdinand fazem, por sua vez. uma abordagem muito interessante ao sentido que a música deve ter. Tive a sorte de trabalhar com grandes músicos pop. Inteligentes. Assim como já aconteceu com músicos de jazz...

Como nasceu a ideia para a capa deste novo disco?
A capa tem a intenção de gerar uma ambiguidade... Creio que resulta... E a foto reflecte um pouco sobre o conhecimento... E há um mundo negro que fica para trás... Pode ser uma ideia do mundo em perigo. Ou algo mais misterioso...

No fundo, enquadra-se no espectro de temas sobre os quais reflecte nas canções... Traduzem as suas preocupações actuais?
Interessa-me o que está acontecer globalmente pelo mundo. Preocupam-me as questões ambientais. Interessa-me o que há de novo na ciência e nas artes.

Lê livros com frequência?
Este ano li muito pouco. Até porque estive muito ocupado a fazer música. Mas tento ler sempre que possível.

E não deve ter muito tempo livre pela frente, já que está prestes a regressar à estrada...
Desta vez vou mesmo ter de fazer concertos ao vivo. Sem computadores! Tenho tocado com uma banda de sete músicos nos últimos tempos. Não digo que não voltarei a faze-lo, mas neste momento sei que não vou trabalhar ao vivo com electrónicas.