quarta-feira, janeiro 07, 2009

Em conversa: Simon Bookish (2/2)

Continuampos hoje a publicação da versão integral de uma entrevista com Leo Chadwick, sobre o seu alter-ago pop Simon Bookish, publicada no DN a 24 de Dezembro de 2008.

A personagem Simon Bookish, que criou para a sua música pop, gosta de discutir assuntos tão diferentes quanto o uso da guilhotina ou os átomos de carbono...
Esses assuntos têm a ver comigo. Acho que a música tem um poder para transportar ideias interessantes.

Mais que o habitual... Convenhamos que não é frequente falar-se de guilhotinas numa canção pop...
Há grandes canções sobre amor, relações e sexo. Mas eu não sinto que possa vir a acrescentar nada nesse sentido. Há outras coisas que posso expressar. Coisa mais inesperadas, talvez.

Porque abandonou a música mais electrónica dos dois primeiros álbuns neste novo terceiro disco? Everything/Everything está claramente mais próximo dos instrumentos que usamos numa orquestra.
Em termos de composição abordei-o até de uma forma mais próxima do jazz... Não em termos de som, contudo, nem de ritmo. Porque o fiz? Como diria um modernista não vejo um sentido em repetir o que já fiz. Não imagino vida mais aborrecida para um músico que aquela coisa de estar sempre a fazer o mesmo álbum. Depois, tenho a sorte de viver em Londres e de conhecer tantos músicos extraordinários. E basicamente queria envolve-los no disco. Nos dois primeiros álbuns, especialmente no segundo, trabalhei praticamente sozinho. Programei, escrevi, fiz a mistura.

Este disco vive, portanto, do acto da colaboração.
Precisamente. Depois de um período solitário queria voltar a trabalhar com outros músicos. Há aqui uma combinação de aborrecimento com vontade de mudar...

O disco fê-lo regressar a coisas que estudou?
Fez, de facto. Tive de trabalhar muito para reaprender. Em algumas canções uso uma grande banda, com 17 partes... Tive de ir reencontrar o que sabia fazer enquanto compositor.

Usa títulos invulgares para os seus álbuns. Sempre usa palavras...
Não sei porquê. Talvez tenha a ver com o bibliotecário Gosto de coisas arrumadas, sistematizadas. Adoro listas, taxonomias...

Chamaria a este disco um ciclo de canções, como o são Songs From Liquid Days de Philip Glass ou mesmo He Poos Clouds, de Final Fantasy?
Bom, eu sou um pouco diferente de Owen [Palett, de Final Fantasy]. Respeito-o muito e tudo o que ele fez. Não se limita. No recente Spectrum, 14th Century parece-me mais criativo que nunca... O meu álbum não tem contudo uma linha de trabalho tão estruturada, tão definida. Como músico, de resto, gosto de criar regras para depois as transgredir. Se digo que vou fazer assim, essa ideia foca-nos num sentido interessante. Mas se depois dizemos, na verdade tenho de quebrar a regra, isso é desafiante. E é justificável. Este álbum nasce sob esse princípio. Sabia sobre que assuntos ia escrever. Ia ter uma canção sobre linguagem, uma sobre história, outra sobre geografia, outra sobre ciências da terra, outro sobre química... À medida que estava a escrever, as regras foram-se quebrando... Um ciclo de canções? Isso já não sei...
(conclui amanhã)