Concluímos hoje a publicanção de uma entrevista com Antony Hegarty, a propósito do lançamento do terceiro álbum de Antony and The Johsnons. A entrevista serviu de base a um artigo publicado no DN a 16 de Janeiro.
O piano ainda é o interlocutor ideal no diálogo que assegura a demanda solitária que busca quando faz música?
É bom interlocutor. É puro e simples... Também gosto da guitarra acústica. Tenho-me aproximado um pouco da guitarra nos últimos tempos. O afastamento tem um pouco a ver com aquela atitude que havia nos anos 80, em que cresci, e quando não se gostava de guitarras.
Depois de uma pausa, como decidiu partir para a escrita de novas canções?
Na verdade, estas canções foram escritas num intrevalo de sete anos. Algumas datam de 2001. Compus ao todo 30 canções...
A presença de Nico Muhly em alguns arranjos do disco aproxima The Crying Light de um conjunto de acontecimentos que têm surgido nos últimos tempos, num diálogo entre os universos da pop e da música clássica?
Eu não venho de um background clássico. Sou mais instintivo. Aprendi mais a ver e a ouvir. A ouvir as minhas canções preferidas. Canções de Kate Bush, de Elisabeth Frazer... Procurando a sua linguagem... O Owen Palett ou o Nico Muhlye vêm de um ensino clássico, que é um mundo diferente do meu. A Johanna Newson também. Estão a ter um impacto interessante no presente, é verdade. Acrescentam novas cores... Veja-se uma Björk... A forma como combina canção e o som de orquestra... Do passado posso recordar os Moody Blues. Inspiraram-me muito..
Ouve música de outros quando compõe ou evita-a para prevenir contaminações?
Não penso em termos de contaminações.Vejo mais essa escuta do trabalho de outros como uma renovação, como uma cultura em marcha. Mais como um diálogo.
E há um outro diálogo em volta da sua música, que se manifesta na sua relação com a imagem. No disco anterior a capa mostrava Candy Darling, numa foto de Peter Hujar... Neste mostra uma foto assinada por Naoya Ikegami.
Neste álbum faço um tributo a um outra figura que adoro. É Kazuo Ohno. Tem um vocabulário muito particular, que tento pedir emprestado para a minha maneira de fazer música. Cruza o corpo e elementos do mundo natural... Imagina movimentos moleculares...
Tem estas imagens em mente quando compõe?
Não sei bem...
É inglês de berço, mas vive há muitos anos nos Estados Unidos. Como viveu em 2008 um ano eleitoral tão debatido entre os americanos?
Tinhamo-nos habituado a pensar que seria impossível eleger um líder sensato As duas últimas eleições tinham sido o que se viu... Havia o medo de que nunca teríamos a hipótese de uma vitória... Só acreditei quando finalmente a vitória de Obama foi anunciada! Estavamos tão habituados a acabar desiludidos. Mas aconteceu. Estava em Paris quando aconteceu. A ver televiaão. Ficámos em choque. Tínhamos eleito alguém com uma autoridade moral. Alguém com orgulho intelectual, que podemos respeitar. É importante para o povo americano, para o mundo. É uma mensagem... Influencia o mundo, a cultura mundial, o ambiente...E a vitória foi por uma margem tão grande, que não se podia evitar o que aconteceu. Ficámos todos muito felizes.
A presente crise económica vai certamente afectar a venda de discos e a de bilhetes para concertos. Pensa nestas problemas?
Não me preocupo. É a última das minhas preocupações.
Em concerto costuma apresentar versões de nomes que vão de Leonard Cohen a Moondog... Pensa editar, um dia, um álbum de versões?
Creio que um dia gostaria de o fazer. Mas gosto da maneira como a Nina Simone usava versões no seu repertório. Era muito natural. Agora vemos músicos a fazer ou só originais ou discos só de versões. O que é interessante nas versões é a maneira como as podemos trabalhar para que sejam nossas.