terça-feira, janeiro 20, 2009

Em conversa: Antony Hegarty (1)

Iniciamos hoje a publicanção de uma entrevista com Antony Hegarty, a propósito do lançamento do terceiro álbum de Antony and The Johnsons. A entrevista serviu de base a um artigo publicado no DN a 16 de Janeiro.

Passaram quatro anos desde I Am A Bird Now... Mas na verdade nunca deixámos de o ver e ouvir. Chegou a tirar férias?
Sim, tirei umas férias...

Por alturas do lançamento do álbum de 2005, e nos tempos que se lhe seguiram, de repente, parecia que toda a gente queria trabalhar consigo... Rufus Wainwright, Joan as Policewoman, Lou Reed, mais tarde Björk, Marc Almond, entre outros mais...
Na verdade foram colaborações feitas há já alguns anos, mas acabaram por ser editadas, todas, no mesmo ano. E assim pareceu que passei uma semana, intensa, a gravar em estúdio com toda a gente. Por exemplo, já tinha gravado para os Hercules & Love Affair antes do I Am a Bird Now. Levou foi muito tempo a ser editado...

Esse projecto [Hercules & Love Affair] mostrou-o num território bem distinto do que habitualmente segue nos seus discos...
O projecto ‘disco’ foi muito interessante, porque me permitiu cantar de outras formas, e chegar às pessoas de outra maneira. E foi muito divertido. Por seu lado, trabalhar com a Björk foi muito inspirador... Estar com ela em estúdio, aprender com ela, observar a forma como não receia o risco... E isso é algo que desejo emular...

Ainda há poucas semanas reencontrámo-lo em mais uma parceria, desta vez ao lado de Marianne Faithfull...
Isso foi mais um projecto do Hal Wilner, de quem sou amigo. É um álbum cheio de duetos que nos levou, um a um, a trabalhar em estúdio com a Marianne. Também foi divertido... Tinha já colaborado com o Hal Wilner, no Berlin [de Lou Reed]. E ele também produziu o The Raven. E o projecto do Leonard Cohen... Muitos destes projectos em que tenho participado estou lá por resultado da intervenção dele.

Apesar de ter já editado discos e dado muitos concertos antes de I Am a Bird Now, era até então um desconhecido para muita gente. Esse disco fez com que tudo isso mudasse... Como reagiu a essa mudança?
Foi um choque para mim. Nem sabia bem o que poderia esperar. Apareciam pessoas de todas as proveniências a demonstrar um interesse pelo meu trabalho. Até então a minha carreira tinha tido uma existência essencialmente marginal. Pensava, portanto, que o álbum [I Am a A Bird Now] e os concertos iam continuar a ser marginais. Foi um choque ver que havia pessoas de todo o género e de todas as partes do mundo a dizer que a minha música tinha entrado nas suas vidas.

Chegou então a receber o Mercury Prize, o prémio maior da indústria discográfica britânica...
Também foi um choque. Fiquei horrorizado e levei algum tempo a habituar-me à ideia...

E como é que esta agitação afectou o homem que está por trás desta música?
Apercebi-me de que, como artista mais novo, tinha sido um renegado. À medida que envelheci passei a interessar-me mais uma ideia de fazer algo útil. De certa maneira, espero que este novo álbum seja a minha forma de participar neste diálogo que faz a nossa evolução. Espero estar a seguir em frente... E a usar a minhas experiências para ser útil a alguém. Não são sonhos de grandeza, mas com este disco tento manter o foco em mim mesmo. Muitas vezes acabo a falar dos outros, a falar do mundo num plano maior... Mas queria manter desta vez o foco das atenções em mim, nas minhas experiências, nos meus movimentos, no meu crescimento, na forma como chego aos outros...
(continua)