>>> ...digamos que ele [Woody Allen] continua perto de nós [na Europa] e nós continuamos a sentir que a América lhe faz falta. Ou seja, é um bocadinho desconcertante — porque, enfim, longe de mim dizer que Woody Allen se transformou num cineasta banal —, mas este filme é mais um em que sentimos que, no fundo, ele está a fazer variações sobre coisas que fez há 10, 15 ou mais anos, nos EUA...<<<
>>>João Lopes, crítico de cinema, na SIC Notícias, sobre "Vicky Christina Barcelona":
"Woody Allen transformou-se num realizador banal".<<<
5. Admito que o tom de diálogo que valorizamos no programa possa estar recheado de ambivalências, ou até de imprecisões, características de um discurso que privilegia a coloquialidade. Mas a expressão "longe de mim dizer que Woody Allen se transformou num cineasta banal", além de correcto português, significa que, mesmo com eventuais reticências a este filme (reticências discutíveis, por certo, não é isso que está em causa), não me passa pela cabeça — longe de mim — considerá-lo um cineasta banal.
O que é que isto tem a ver com: "Woody Allen transformou-se num realizador banal"?
6. O que me choca não é a diferença de opiniões — longe de mim considerar tal diferença como um valor negativo. O que me choca é que esta é uma lógica de indiferença, para mais susceptível de se propagar como um vírus, provocando a situação absurda de se ter que corrigir o que... nunca se disse.
7. Que fazemos na blogosfera? Que ideias temos para expor? E que relação queremos estabelecer com as ideias dos outros? Mais ainda: que atenção damos, realmente, às ideias dos outros?
O movimento das ideias nunca é fácil, uma vez que pressupõe, não apenas a capacidade de sustentar um discurso próprio e pessoal, mas o máximo de disponibilidade para lidar com o discurso do(s) outro(s). Quando qualquer discurso fica reduzido a uma caricatura sem consistência, perdemos todos.