terça-feira, dezembro 09, 2008

Klaatu Barada Nikto

Um dos clássicos maiores do cinema de ficção científica dos anos 50 vai conhecer, esta semana, a estreia de um “remake” nele baseado... Antes de ver o que nos propõe a actualização, fica a memória de um filme que não é apenas um um mais um igual a dois de robots, soldados e discos voadores. Realizado em 1951 por Robert Wise, The Day The Earth Stood Still usa códigos e figuras da ficção científica da época (os robots e discos voadores) para sugerir uma reflexão sobre o medo do desconhecido, a ansiedade perante o novo e a opção primeira pela violência, apontada como característica primordial do comportamento humano. O dispara primeiro, pergunta depois... A história, em traços largos, é a da visita à Terra (com poiso em Washington), de uma patrulha alienígena, constituída por um ser que aparenta as feições de um humano e um robot metálico. São recebidos por um aparato de jornalistas, curiosos e militares. E de um soldado salta um tiro antes mesmo de uma palavra de resposta humana à saudação do alienígena à chegada... Chama-se Klaatu e chega em missão “global”, procurando uma reunião com os chefes de estado de todo o mundo. Impossível, responde um enviado da Casa Branca. “Esconde-se” entre a população, descobre o quotidiano dos humanos, e tenta nova reunião, desta vez com cientistas... Acaba novamente baleado, mas não deixa o planeta sem uma mensagem clara de alerta: se a violência que os humanos praticam entre si alastrar aos seus “vizinhos” espaciais, o planeta será apagado do mapa...

A força messiânica da personagem central é evidente. O argumentista, Edmundo North (que trabalhou sobre uma história de Harry Bates, admitiu ter procurado, num plano subliminar, a sugestão de paralelos entre entre a figura de Klaatu e a de Cristo. A sua mensagem de paz, a morte e ressurreição, as palavras que resumem a sua missão antes de entrar no disco voador e subir no firmamento, são algumas das pistas que sustentam esta leitura. The Day The Earth Stood Still chegou nos primeiros tempos da Guerra Fria. E pensa-se que terá inspirado Ronald Reagan quando, depois do histórico encontro em 1985 com Gorbachev, falou da forma como a humanidade esqueceria as diferenças entre si se chegasse à Terra uma ameaça exterior...
A mais de 50 anos de distância, The Day The Earth Stood Still revela a força de um absoluto clássico. O tutano narrativo centra-se no confronto da mensagem de Klaatu com os comportamentos da sociedade humana do século XX, secundarizando claramente o apelo visual sci-fi, distanciando-se assim da produção série B (a Z) da época. Nota ainda para a banda sonora, de Bernard Hermann, na qual dois theremin se juntam a uma orquestra, sugerindo um som que certamente terá estado entre as referências de Danny Elfman quando pensou a música para Marte Ataca, de Tim Burton. O filme inscreveu ainda na história da ficção científica a frase “Klaatu Barada Nikto”, na verdade nada mais que uma prima do “live long and prosper” de Star Trek ou “may the force be with you” da Guerra das Estrelas.



Imagens do trailer original, que anunciava a estreia do filme em 1951. Sekm surpresa destaca-se, aqui, a mensagem mais “sensacional” gerida pelo departamento de marketing do estúdio, guardando-se assim para a sala de cinema a descoberta da real força do filme...