Morreu, vitimado por cancro, um dos nomes maiores da literatura do século XX (Nobel em 2005) e, em particular, do teatro contemporâneo — Harold Pinter faleceu na véspera do dia de Natal, contava 78 anos.
A primeira peça de Pinter, The Room, surgiu em 1957. Se há linha de continuidade e coerência numa obra que viria a repartir-se pelo teatro (29 peças), cinema (26 argumentos), poesia, ensaio, televisão e rádio, talvez a possamos definir através de uma paradoxal insuficiência da palavra: as personagens das suas peças mais famosas — The Birthday Party (1957), The Caretaker (1959), The Homecoming (1964), No Man's Land (1975), Betrayal (1978), One for the Road (1984) ou Moonlight (1993) — vivem quase sempre nesse espaço intermédio (de facto, uma terra-de-ninguém) em que a comunicação favorece um sistema de trocas que, por trágica ironia, amplia a solidão de cada um.
De algum modo, a sua ligação ao cinema, com argumentos originais, adaptados ou baseados em peças de sua autoria, reflecte a mesma dinâmica temática e criativa. A sua ligação ao negrume crítico da obra de Joseph Losey (1909-1984) foi particularmente marcante, tendo-se saldado por três títulos — O Criado (1963), Acidente (1967) e O Mensageiro (1970) —, de alguma maneira unidos pela contemplação dos restos do romantismo clássico. O mesmo se poderá dizer, aliás, da sua adaptação do romance de John Fowles, A Amante do Tenente Francês, filmada em 1981 por Karel Reisz, com Meryl Streep e Jeremy Irons nos principais papéis — eis o respectivo trailer.
Com formação e prática de actor (nos anos 50, usando o pseudónimo 'David Baron'), Pinter teve toda a sua carreira pontuada por diversos trabalhos em palco, no cinema e na televisão. Em 2006, no âmbito da temporada comemorativa dos 50 anos do Royal Court, Pinter interpretou a personagem de Krapp numa breve carreira (nove representações) de Krapps's Last Tape, de Samuel Beckett. No passado mês de Outubro, assumira a presidência da Central School of Speech and Drama, precisamente a escola em que estudara arte dramática em 1950-51.
Distinguido em 2005 com o Prémio Nobel da Literatura, o seu discurso de agradecimento é uma notável peça literária e de oratória, reflectindo os seus continuados empenhamentos políticos e, em particular, a sua condenação da intervenção dos EUA no Iraque.
>>> Site oficial de Harold Pinter.
>>> Entrevista conduzida pelo actor e director Harry Burton (8 Set. 2008).
>>> Obituário na BBC.
>>> Obituário em The New York Times.
>>> Obituário em Le Monde.
>>> Site oficial da Central School of Speech and Drama.
>>> Página no British Film Institute.
>>> Teatro de Pinter pelos Artistas Unidos.
>>> Video do discurso do Nobel.