Esta fotografia foi obtida a 19 de Maio de 2008, cerca de seis meses antes de Barack Obama ser eleito o 44º Presidente dos Estados Unidos da América. Nela se regista um momento da visita do candidato aos índios Crow, no estado de Montana. Photo-op, como se diz na gíria mais ou menos cínica do jornalismo? Sim, sem dúvida, ou não se tivesse jogado esta eleição, mais do que qualquer outra, em qualquer país do mundo, no espaço multifacetado dos media. Mas muito mais do que isso: através das imagens e dos símbolos, Obama reabriu o imaginário histórico/mitológico da América à sua diversidade interior, colocando o seu discurso — e a sua prática — muito para além da oposição entre Branco e Negro.
Não é, de facto, um mundo a preto e branco, este em que Obama se situa e de que a sua presidência será uma fundamental pedra de toque. É antes um mundo de contrastes — e, por certo, também de contradições, difíceis e complexas — em que a dicotomia maniqueísta, preto E branco, pode ser superada pela pluralidade dialéctica, preto OU branco. Afinal de contas, era essa mesma agilidade simbólica que Michael Jackson cantava em Black or White — foi em 1991, o que apenas confirma algo de que, tantas vezes, por indiferença ou preconceito, nos esquecemos: a cultura pop é quase sempre mais rápida que o trabalho político.