Afinal de contas, que significa manter viva a cinefilia? Ou ainda: como nos realcionamos com o passado do cinema? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (20 de Dezembro), com o título 'Lembrar e esquecer'.
A propósito da retrospectiva dedicada a Clint Eastwood (a decorrer na Cinemateca), não pude deixar de me recordar dos que, em 1992, face ao filme Imperdoável, demonstravam grande entusiasmo por descobrirem que, “afinal”, o homem também realizava filmes... De facto, o primeiro filme de Eastwood como realizador, Play Misty for Me (Destinos nas Trevas), tinha sido feito mais de duas décadas antes, em 1971.
O problema, repare-se, não decorria de nenhum ideal enciclopédico: gostar de cinema é uma descoberta constante. Acontece que, para além da sua dimensão anedótica, o episódio encerrava um sintoma que, com o tempo, só se agravou. Há uma crescente indiferença pelo cinema como história e património, indiferença essa que gerou um novo modelo de espectador: aquele que julga que a história do cinema é um “progresso” constante que os filmes actuais ilustram de forma imaculada, dispensando o conhecimento dos “antigos”. Na prática, assistimos, assim, ao triunfo de um esquecimento que vive viciado no turbilhão de imagens da televisão: tudo parece presente, porque nada é lembrado pelo seu valor específico.
A propósito da retrospectiva dedicada a Clint Eastwood (a decorrer na Cinemateca), não pude deixar de me recordar dos que, em 1992, face ao filme Imperdoável, demonstravam grande entusiasmo por descobrirem que, “afinal”, o homem também realizava filmes... De facto, o primeiro filme de Eastwood como realizador, Play Misty for Me (Destinos nas Trevas), tinha sido feito mais de duas décadas antes, em 1971.
O problema, repare-se, não decorria de nenhum ideal enciclopédico: gostar de cinema é uma descoberta constante. Acontece que, para além da sua dimensão anedótica, o episódio encerrava um sintoma que, com o tempo, só se agravou. Há uma crescente indiferença pelo cinema como história e património, indiferença essa que gerou um novo modelo de espectador: aquele que julga que a história do cinema é um “progresso” constante que os filmes actuais ilustram de forma imaculada, dispensando o conhecimento dos “antigos”. Na prática, assistimos, assim, ao triunfo de um esquecimento que vive viciado no turbilhão de imagens da televisão: tudo parece presente, porque nada é lembrado pelo seu valor específico.