Com a estreia de Amália - O Filme, produzido por Filmes Valentim de Carvalho e dirigido por Carlos Coelho da Silva, o cinema português reinstala-se numa via que o faz tender, cada vez mais, para as convenções dominantes do espaço televisivo — este texto foi publicado no Diário de Notícias (4 de Dezembro), com o título 'Telecinema'.
Como é possível colocar em cena o canto de Amália Rodrigues? A resposta talvez só possa ser esta: não é possível. O caso de Amália – O Filme acaba por ser cruamente, e cruelmente, revelador. Sandra Barata Belo tem a tarefa ingrata de fazer playback sobre os sons de Amália e o mínimo que se pode dizer é que a voz da fadista resiste a ser “casada” com qualquer outro corpo que não o seu.
Não é um mero problema de dramatismo, muito menos de sincronismo. É uma questão de fundo que resume a atitude criativa inerente a Amália – O Filme. Que é como quem diz: estamos perante um exemplo (mais um!) de uma opção cinematográfica portuguesa que aceita dissolver-se nas regras da mais rotineira produção televisiva e, em particular, na sua psicologia determinista. Amália é apresentada através de duas informações minimalistas e descontextualizadas: primeiro, aquela que foi acusada de “fascista” no pós-25 de Abril; depois, alguém que, em 1984, na solidão de um quarto em Nova Iorque, experimentou uma forte pulsão suicida. A partir daí, parece não haver mais espaço a não ser para confirmar o “destino” decorrente dessas informações. Como numa telenovela, a personagem não existe para viver, apenas para ilustrar o quadro dramatúrgico que lhe é imposto desde as primeiras cenas.
Fica o reaparecimento da marca “Valentim de Carvalho” no espaço de produção do cinema português. É um sinal que se saúda, na certeza de que a vitalidade dessa produção depende sempre da maior pluralidade possível. Resta saber para onde vai este cinema sem cinefilia, entregue às convenções da retórica televisiva.
Como é possível colocar em cena o canto de Amália Rodrigues? A resposta talvez só possa ser esta: não é possível. O caso de Amália – O Filme acaba por ser cruamente, e cruelmente, revelador. Sandra Barata Belo tem a tarefa ingrata de fazer playback sobre os sons de Amália e o mínimo que se pode dizer é que a voz da fadista resiste a ser “casada” com qualquer outro corpo que não o seu.
Não é um mero problema de dramatismo, muito menos de sincronismo. É uma questão de fundo que resume a atitude criativa inerente a Amália – O Filme. Que é como quem diz: estamos perante um exemplo (mais um!) de uma opção cinematográfica portuguesa que aceita dissolver-se nas regras da mais rotineira produção televisiva e, em particular, na sua psicologia determinista. Amália é apresentada através de duas informações minimalistas e descontextualizadas: primeiro, aquela que foi acusada de “fascista” no pós-25 de Abril; depois, alguém que, em 1984, na solidão de um quarto em Nova Iorque, experimentou uma forte pulsão suicida. A partir daí, parece não haver mais espaço a não ser para confirmar o “destino” decorrente dessas informações. Como numa telenovela, a personagem não existe para viver, apenas para ilustrar o quadro dramatúrgico que lhe é imposto desde as primeiras cenas.
Fica o reaparecimento da marca “Valentim de Carvalho” no espaço de produção do cinema português. É um sinal que se saúda, na certeza de que a vitalidade dessa produção depende sempre da maior pluralidade possível. Resta saber para onde vai este cinema sem cinefilia, entregue às convenções da retórica televisiva.