quarta-feira, novembro 12, 2008

A revolução electrónica

Há documentários que, mesmo absolutamente destituídos de qualquer sentido cinematográfico e construídos sem a consciência de que a forma de apresentar uma história pode amplificar a satisfação de quem acompanha a narrativa, não deixam de se revelar importantes documentos sobre a realidade que nos apresentam. É o caso de Kraftwerk and The Electronic Revolution, acabado de editar em DVD. É minimal nas ideias de cinema e repetitivo na utilização, às fatias, de entrevistas e imagens de arquivo. Mas oferece-nos uma visão espantosamente completa do cenário que permitiu o surgimento das electrónicas como ferramenta ao serviço da música popular, tomando os Kraftwerk como protagonistas.

São 180 minutos de filme, propondo uma história cronologicamente arrumada que parte da Alemanha do pós-guerra, revelando como o surgimento de uma cultura free jazz e o acarinhar de espaços dedicados à música experimental foram, nos anos 60, berços para ideias que procuravam uma identidade distinta da realidade pop que a presença norte-americana em Berlim ocidental e a cultura de bares em Hamburgo (invadida por grupos ingleses) então propunha. A estes espaços junta-se a presença determinante do compositor Karlheinz Stockhausen e de heranças do francês Pierre Schaffer, que revelam novas formas de encarar o som e a construção de música por novos veículos electrónicos. O filme acompanha depois o nascimento do fenómeno kraut, escuta elementos de antigas bandas e repara como os Kraftwerk cedo mostram um caminho próprio, que os destacará dos mais contemporâneos. Apesar de dedicar quase 50 minutos ao contexto que permite o nascimento dos Kratwerk e de tratar da discografia pós-The Man Machine já a olhar para o relógio, o filme tem ainda tempo para identificar descendências directas da obra do quarteto de Dusseldorf ora no disco de Giorgio Moroder, na pop de uns Soft Cell ou no hip hop de Afrika Bambaataa... Como extras oferece-se uma comparação das cenas de Berlim e Dusseldorf e ainda uma entrevista com o ex-Kraftwerk Karl Bartos.