James Dean, símbolo da juventude? Sim, mas símbolo esquecido, devorado por outras imagens que reduzem os jovens, nomeadamente os estudantes, a marionetas das convenções televisivas. Importa perguntar como são vistos / mostrados / representados os alunos nos telejornais — este texto foi publicado no Diário de Notícias (16 de Novembro), com o título 'Alunos que gritam nos telejornais' (os subtítulos foram colocados para esta edição).
> Jornalistas e jornalismo. Há um velho preconceito que menospreza os jornalistas televisivos face aos que trabalham nos jornais: o trabalho dos primeiros seria ligeiro e simplista, o dos segundos elaborado e profundo. É um preconceito estúpido, como é óbvio. Em todo o caso, não creio que a denúncia de tal estupidez seja incompatível com o reconhecimento de que continua a existir um enorme défice de reflexão do jornalismo televisivo sobre os efeitos concretos das imagens que difunde. Um bom/mau exemplo é o modo superficial, tendencialmente anedótico, de várias reportagens sobre as recentes manifestações de estudantes contra alguns aspectos da política do ministério da Educação.
São muitas e legítimas as dúvidas que tal política suscita. Mas importa perguntar o que se viu nessas reportagens. E sobretudo: como se viu? Isto na certeza de que um jornalismo adulto não se pode refugiar no discurso de que as coisas “acontecem” e nós limitamo-nos a “reproduzi-las”... Nunca há reprodução seja do que for: fazer reportagem é seleccionar, organizar, construir e reconstruir pontos de vista.
Dir-se-ia que se estava perante uma colecção de crianças aos pulos... Era uma primeira impressão, claro. Mas não a podemos secundarizar na descrição do trabalho televisivo. Isto porque a televisão funciona também (e sem se questionar sobre isso) como indutora de acontecimentos. Bastava observar a quantidade de imagens que mostravam grupos de alunos a pular para... as próprias câmaras.
> As crianças como protagonistas. Dizer que as manifestações aconteceriam mesmo que a televisão não estivesse lá, será uma maneira pueril de desresponsabilizar o labor jornalístico. Claro que aconteceriam. Mas seria uma ingenuidade medieval supor que, hoje em dia, há alguma actividade política (em particular uma manifestação de protesto) que ignore a sua amostragem televisiva.
Tudo isto faz parte do jogo social, sem dúvida: a interacção entre cidadãos e media é mesmo um dado vital da vida democrática. Ainda assim, importa questionar os efeitos concretos de cada exemplo dessa interacção. Face a estas manifestações, a televisão acabou por “promover” crianças de 11 ou 12 anos (algumas eram nitidamente mais novos) a verdadeiros protagonistas mediáticos. Algumas delas acabaram mesmo por ter uma presença nos telejornais com imagens e entrevistas que, no plano simbólico, as colocava a par de dirigentes sindicais, deputados e ministros.
> Jovens: que papel social? Na nossa sociedade infantilizada, não é popular lembrar os efeitos perversos desta “igualização” dos protagonistas das notícias. Mas os sinais aí estão. E com um efeito muito particular, sobre o qual quase ninguém pensa: implicitamente, assim se propõe aos próprios jovens um papel social que passa pela histeria em frente das câmaras de televisão e pela capacidade de dizer “sound-bytes” que funcionem em cinco segundos de informação.
Vão longe os tempos de modelos cinematográficos como James Dean em que os adolescentes tinham direito a uma imagem de imensa complexidade afectiva e mental. Agora, os nossos jovens são celebrados porque gritam muito, enquanto vivem rodeados por Morangos com Açúcar e outros produtos do género. Que os nossos políticos (e também os professores dessas crianças) nada tenham a dizer sobre isto, eis o que continua a ser um escândalo de todos os dias.
> Jornalistas e jornalismo. Há um velho preconceito que menospreza os jornalistas televisivos face aos que trabalham nos jornais: o trabalho dos primeiros seria ligeiro e simplista, o dos segundos elaborado e profundo. É um preconceito estúpido, como é óbvio. Em todo o caso, não creio que a denúncia de tal estupidez seja incompatível com o reconhecimento de que continua a existir um enorme défice de reflexão do jornalismo televisivo sobre os efeitos concretos das imagens que difunde. Um bom/mau exemplo é o modo superficial, tendencialmente anedótico, de várias reportagens sobre as recentes manifestações de estudantes contra alguns aspectos da política do ministério da Educação.
São muitas e legítimas as dúvidas que tal política suscita. Mas importa perguntar o que se viu nessas reportagens. E sobretudo: como se viu? Isto na certeza de que um jornalismo adulto não se pode refugiar no discurso de que as coisas “acontecem” e nós limitamo-nos a “reproduzi-las”... Nunca há reprodução seja do que for: fazer reportagem é seleccionar, organizar, construir e reconstruir pontos de vista.
Dir-se-ia que se estava perante uma colecção de crianças aos pulos... Era uma primeira impressão, claro. Mas não a podemos secundarizar na descrição do trabalho televisivo. Isto porque a televisão funciona também (e sem se questionar sobre isso) como indutora de acontecimentos. Bastava observar a quantidade de imagens que mostravam grupos de alunos a pular para... as próprias câmaras.
> As crianças como protagonistas. Dizer que as manifestações aconteceriam mesmo que a televisão não estivesse lá, será uma maneira pueril de desresponsabilizar o labor jornalístico. Claro que aconteceriam. Mas seria uma ingenuidade medieval supor que, hoje em dia, há alguma actividade política (em particular uma manifestação de protesto) que ignore a sua amostragem televisiva.
Tudo isto faz parte do jogo social, sem dúvida: a interacção entre cidadãos e media é mesmo um dado vital da vida democrática. Ainda assim, importa questionar os efeitos concretos de cada exemplo dessa interacção. Face a estas manifestações, a televisão acabou por “promover” crianças de 11 ou 12 anos (algumas eram nitidamente mais novos) a verdadeiros protagonistas mediáticos. Algumas delas acabaram mesmo por ter uma presença nos telejornais com imagens e entrevistas que, no plano simbólico, as colocava a par de dirigentes sindicais, deputados e ministros.
> Jovens: que papel social? Na nossa sociedade infantilizada, não é popular lembrar os efeitos perversos desta “igualização” dos protagonistas das notícias. Mas os sinais aí estão. E com um efeito muito particular, sobre o qual quase ninguém pensa: implicitamente, assim se propõe aos próprios jovens um papel social que passa pela histeria em frente das câmaras de televisão e pela capacidade de dizer “sound-bytes” que funcionem em cinco segundos de informação.
Vão longe os tempos de modelos cinematográficos como James Dean em que os adolescentes tinham direito a uma imagem de imensa complexidade afectiva e mental. Agora, os nossos jovens são celebrados porque gritam muito, enquanto vivem rodeados por Morangos com Açúcar e outros produtos do género. Que os nossos políticos (e também os professores dessas crianças) nada tenham a dizer sobre isto, eis o que continua a ser um escândalo de todos os dias.