sábado, outubro 11, 2008

Vidas cruzadas

A relação que se estabeleceu depois da guerra entre a Turquia e a Alemanha, esta última albergando significativa emigração turca, foi ponto de partida para algumas histórias de sucesso, mas também para muitas outras, feitas de tensão e frustração. Alemão, filho de emigrantes turcos, o realizador Fatih Akin cresceu conhecendo as cores e sombras destas vivências. O Outro Lado (no original Auf Der Anderen Seite), que esta semana estreou nos cinemas nacionais, não é mais que a projecção, numa narrativa de ficção, de realidades que a sua história de vida lhe permite conhecer de perto.
O filme vive de uma colecção de histórias pessoais que, à partida quase sem aparente relação entre si, na verdade acabam inevitavelmente cruzadas. No centro da acção conhecemos Nejat (Baki Davarak), filho de emigrantes turcos na Alemanha e especialista em Goethe, que regressa, após tragédia familiar, ao país onde o seu pai nasceu. Este último, viúvo, encontrara como companheira Yeter, uma prostituta, também ela turca. Esta aceita o “contrato” como fuga a radicais islâmicos que patrulham o bairro onde esta se prostituía. Esta história acabará cruzada com a de Ayten (Nurgül Yesilçay), filha de Yeter, uma activista política que foge da Turquia e conhece o amor, na Alemanha, com uma jovem que a alberga em casa, apesar da resistência da mãe. Esta, interpretada por Hanna Schygulla, sublinha o que parece ser uma opção de casting na qual o realizador vinca uma homenagem ao cinema de Rainer Werner Fassbinder.
Nem excessivamente melodramático, nem refém do registo pardo de muito realismo social contemporâneo, O Outro Lado junta uma narrativa pungente e plausível a um gosto evidente pelo trabalho de imagem.
PS. Texto publicado no DN a 10 de Outubro de 2008