quarta-feira, outubro 22, 2008

Que jornalismo televisivo?

Há sinais de que o espaço da informação televisiva pode estar a entrar num importante capítulo de renovação. Assim, o modelo do canal de informação, consagrado pela experiência pioneira da SIC Notícias, está a ser objecto de um claro desafio pelas transformações recentes da RTPN, ao mesmo tempo que se volta a falar de um outro projecto na mesma área, neste caso com a chancela da TVI.
É um momento privilegiado para a classe jornalística, em geral, e os jornalistas televisivos, em particular, analisarem e repensarem o seu próprio trabalho. Porquê? Quanto mais não seja porque a contaminação da informação televisiva pelo "espontaneísmo" da reality TV se transformou num fenómeno transversal e, em muitos aspectos, preocupante. Porquê preocupante? Porque igualiza todos os acontecimentos numa agitação mais ou menos "burlesca", por vezes menosprezando mesmo os sinais mais gravosos da actualidade para privilegiar os mais rasteiros fait divers.
Mais do que nunca, importa sublinhar que não faz sentido considerar que tal visão do que está a acontecer apenas existe na cabeça de alguns "especialistas", eventualmente críticos de televisão, que "não percebem" que os conceitos de informação e espectáculo passaram a ter muitos cruzamentos... Claro que passaram (é, por isso, aliás, que gostamos da CNN).
O problema é outro e, acima de tudo, está muito para além dos naturais conflitos de pontos de vista entre quem faz televisão e quem a critica. Mesmo que possamos desqualificar as intervenções de todos os críticos, o problema tem a ver com uma conjuntura que seria pueril ignorar. A saber: a falta de credibilidade de muitas formas de "jornalismo" televisivo passou a ser reconhecida — e criticada — por um número crescente de espectadores. Só uma atitude de avestruz poderá ignorar o desagrado e a saturação inerentes a tal reacção. E se há responsáveis televisivos que consideram que a sua gestão deve passar apenas pelos números abstractos das audiências, lamentavelmente enganam-se — lamentavelmente para eles e para os espectadores, entenda-se.