
Para o melhor ou para o pior, a gestão das imagens dos candidatos tem sido um elemento fulcral da campanha presidencial nos EUA (como em todos os países democráticos, acrescente-se). Dos spots publicitários de Obama e McCain ao piscar de olho de Sarah Palin, tudo adquire uma importância enorme nesse bailado mediático entre aquilo que nos é dado ver e o que percebemos ou julgamos perceber. Está a chegar, aliás, o prodigioso filme W., de Oliver Stone, sobre o ainda Presidente Bush (estreia dia 23), precisamente uma visão acutilante da desproporção entre a vida interior da política e a sua percepção exterior.
.jpg)
Censurado parte de um episódio da guerra do Iraque, protagonizado por um grupo de soldados americanos que, na zona de Samarra, violaram e mataram uma jovem, depois massacrando toda a família. O filme é menos sobre a lógica da guerra enquanto facto político e mais sobre a sua percepção interior. Mais concretamente, De Palma organiza o seu filme como se fosse uma remontagem (é esse, aliás, o sentido do título original Redacted) de imagens registadas, em grande parte, pelos próprios soldados ou provenientes de noticiários televisivos sobre aquela ocorrência específica.

À excepção de algumas fotografias da guerra, mostradas no final, Censurado não deixa de ser um elaboradíssimo filme de ficção, com imagens concebidas e registadas pelo próprio De Palma (que dá conta, aqui, de um ponto de vista profundamente desencantado em relação à lógica e aos efeitos da intervenção militar americana no Iraque). Seja como for, nada disso impede que o filme vá gerando um perturbante efeito documental. Dir-se-ia que assistimos ao registo “amador” de uma experiência cujo sentido, a pouco e pouco, vai escapando aos próprios protagonistas. E talvez seja esse, afinal, o significado mais extremo do trabalho de De Palma: o de uma perda de conhecimento decorrente do excesso de imagens que recebemos ou fabricamos.