Já sabíamos que a informação, sobretudo a de raiz televisiva, passou a ser dominada pela teatralidade do pânico. Não que o mundo não esteja cheio de coisas horrendas. Mas o certo é que há um estilo de informar que precisa de, pelo menos, um apocalipse por dia — aconteça o que acontecer.
Porquê? Para depois nos dizerem qualquer coisa como: "A vossa vida está f*#@". Mas não desliguem, porque a seguir vamos apresentar a telenovela da noite..." Numa escala mais anedótica (mas com a mesmíssima ideologia), era esse o discurso dominante em torno da selecção de Scolari: por cada desastre acumulado, havia sempre uma voz angelical que nos garantia sermos os melhores do mundo...
O apocalipse deste dia 13 é redentor. Veja-se o gráfico. Serve de introdução a uma notícia (da CNN), uma das muitas notícias que registaram o relançamento das bolsas de todo o mundo, em especial depois das medidas tomadas por alguns governos europeus. Mais exactamente, devemos estar todos satisfeitos porque "a per-centagem de ganho do Dow é a maior desde 1933."
Podemos não duvidar da sapiência dos que dirigem as nossas economias (ou dos analistas que a legitimam). E não nos fica mal acreditar que a revitalização do Dow é uma boa notícia para as nossas vidas. Ainda assim, neste mundo um dia a chafurdar no caos, no dia seguinte a descobrir horizontes de prosperidade, talvez ainda seja possível ver um pouco para além dos ciclos apocalípticos de 24 horas em que nos obrigam a viver. Ou não?
Para quê? Para lembrar, por exemplo, que "con-trariarmente ao que se ouve dizer, há 20 anos que não há nenhuma orientação económica e financeira no mundo, é tudo um enorme logro — e isso pode ter consequências dramáticas." Reparem, não sou eu que o digo, mas sim um senhor de nome Paul Krugman [foto] — não sei se é importante acres-centar, mas hoje ele ganhou o Nobel da Economia.
Para quê? Para lembrar, por exemplo, que "con-trariarmente ao que se ouve dizer, há 20 anos que não há nenhuma orientação económica e financeira no mundo, é tudo um enorme logro — e isso pode ter consequências dramáticas." Reparem, não sou eu que o digo, mas sim um senhor de nome Paul Krugman [foto] — não sei se é importante acres-centar, mas hoje ele ganhou o Nobel da Economia.