sábado, outubro 11, 2008

Jornalismo no papel e na Net

A actual campanha eleitoral americana veio mostrar as crescentes potencialidades de articulação entre as estratégias jornalísticas e as plataformas da Net — este texto foi publicado no Diário de Notícias (10 de Outubro), com o título 'Da televisão à Internet'.

Quanto mais não seja por razões que têm a ver com o mercado dos “electrodomésticos”, sabemos que são cada vez mais ténues as fronteiras entre televisor caseiro e computador. Agora, a inter-nacionalização das eleições americanas tem permitido observar a crescente contaminação da televisão tradicional pelas muitas variações proporcionadas pela Internet. Não se trata de um fenómeno novo, mas é um facto que tem vindo a gerar novos e muito curiosos registos.
O mais imediato, e também o mais generalizado, tem a ver com a crescente possibilidade de as matérias televisivas serem “trans-feridas” para outros contextos. Isso é particularmente visível em blogs de todas as origens. De facto, várias cadeias de televisão (por exemplo, a CNN ou a NBC) disponibilizam alguns dos seus conteúdos, podendo estes ser colocados (embedded) num qualquer site. Do ponto de vista técnico, é uma operação relativamente simples (trata-se de transferir um código em html) que, além do mais, funciona como mecanismo divulgador do próprio canal que cede as suas matérias informativas.
Outro modelo (umas vezes “trans-ferível”, outras não) tem a ver com o facto de alguns sites produzirem informação filmada, um pouco à maneira de pequenos noticiários televisivos. Um exemplo está, por estes dias, no site da revista Rolling Stone (referente à edição que sairá com a data de 16 de Outubro). Clara apoiante da candidatura democrata, a revista propõe-se denunciar o que considera serem as mentiras em torno da biografia de John McCain, em particular o seu histórico “contra” Washington. Pois bem, na Internet, Tim Dickinson, autor do artigo principal do dossier McCain, surge num pequeno video intitulado “Cinco mitos sobre John McCain”.
Nada disto é novo, insisto, nada disto se pode considerar surpreendente. Acontece que a sua proliferação nos permite perceber, em embrião, muitas formas potenciais do futuro mediático. Que é como quem diz: uma crescente contaminação televisiva de muitos discursos jornalísticos, apostando (com mais ou menos imaginação e talento) na sedução imediata da imagem.