Talvez seja quase obsceno dizê-lo, mas tem também algo de vital evocar a máxima que se colou à mitologia de James Dean (1931-1955): "Viver depressa, morrer novo." Na verdade, a súbita notícia da morte de Guillaume Depardieu, aos 37 anos, deixa-nos perante esse silêncio, tecido de luz e revolta, com que vemos desaparecer uma vida eternizada pelo cinema. Porque, de facto, mesmo conhecendo-o mal, sentíamos que Guillaume, filho de Gérard e Elisabeth Depardieu, era um ser do cinema. Não um poster de revista mais ou menos cor de rosa, mas um corpo perturbado e perturbante que inscrevia nas imagens — e através da sonoridade triste da sua voz — esse desejo insensato de olhar tudo de frente, incluindo a estupidez da morte.
Descobrimo-lo, provavelmente, no papel do jovem Marin Marais, em Tous les Matins du Monde (1991), de Alain Corneau. Mas foi em 1999, através de Pola X [foto], de Leos Carax, que Guillaume fez o seu filme definitivo, um pouco como quando Jean Seberg se deixou filmar por Robert Rossen, em Lilith (1964) — nada daquilo poderia repetir-se, estava-se demasiado próximo da verdade e as multidões não gostam disso (pelo menos a multidão do Festival de Cannes, que tratou Pola X como um crime estético).
Mais recentemente, participara na mini-série Napoléon (2002) e ainda em Ne Touchez pas la Hache (2007), de Jacques Rivette, e De la Guerre (2008), de Bertrand Bonello. Rodava actualmente L'Enfance d'Icare, de Alex Iordachescu, na Roménia. Atingido por um vírus que desencadeou uma violenta pneumonia, tinha sido há poucos dias internado no Hospital de Garches (Hauts-de-Seine), onde veio a falecer ao princípio da tarde de 13 de Outubro de 2008.