O concerto no Carnegie Hall que surge agora em disco aconteceu há dez anos. A esta distância, o que fez toda a aventura Buena Vista Social Club pela musica cubana?
Obviamente a primeira coisa que posso dizer é que levou esta música a muita gente que nunca tinha ouvido falar dela. Nunca a tinha ouvido. É uma grande tradição musical, um grande repertório, envolveu um grande número de músicos que fizeram discos clássicos e que assim foram revelados. Em segundo lugar, criou uma série de oportunidade de emprego para músicos que não tinham trabalho. E que puderam sair de Cuba e viajar pelo mundo. Inclusivamente por este país [os EUA], antes dos evil clowns [“palhaços do mal” será a tradução mais literal] terem tomado o poder, em 2001, e que pararam tudo. Ao abrir espaço de trabalho a músicos o que estamos a fazer é a preservar, ou seja, a estender o tempo de vida da música. Se não trabalharem para garantir a sua subsistência, não podem tocar. E se não tocarem a música não sobrevive. O que aconteceu foi bom. Há quem me encontre na rua e me diga que fiz algo pelas suas vidas, porque não conheciam aquela música e gostam do Buena Vista Social Club... Bom, costumo dizer que fiz mais uns discos e pergunto se querem saber mais sobre eles...
É frustrante ver as pessoas a falar consigo sobretudo sobre certos trabalhos e quase ignorarem outros?
Tem graça... As pessoas não alimentam muitas vezes o seu interesse pela música. Muitas vezes deixam de prestar atenção e desligam-se. Inclusivamente pessoas que gostaram muito do Buena Vista Social Club não continuaram a acompanhar o que depois aconteceu. Não acompanharam os álbuns a solo que se seguiram...
Vê esses discos a solo como a continuação da história?
Sim. Mas tudo isto tem muito a ver com o que se passou neste país. Quando os evil clowns tomaram o poder e começou a guerra no Iraque tudo foi desactivado. Desmoralizou as pessoas, que se tornaram menos expansivas e mais relutantes.
Diz que a administração Bush teve um efeito negativo na produção artística?
Teve um efeito enorme em tudo. Destruiu o país no seu ânimo enquanto sociedade. Cedeu às piores influências... Em tudo. O facto das pessoas se resguardarem atrás dos telemóveis e de se preocuparem essencialmente consigo mesmos tem a ver com tudo isto. O que é que as pessoas tinham para fazer? As pessoas têm lançar as suas energias psíquicas nalguma direcção, daí que as voltem para si mesmas. E isso é uma coisa triste... Estamos todos aterrorizados com Novembro... Wall Street está a ir por água abaixo... O que restará não sei.
Acredita que uma mudança real será possível com uma nova administração?
Sim... Mas a mudança de que precisamos não é só o parar na guerra no Iraque. Precisamos de uma mudança emocional. Uma mudança que faça as pessoas ter menos medo, ser menos hostis e menos recuadas para si mesmo. Menos aterrorizadas pelo seu governo. Depois vemos aquela Sarah Palin e sentimos quão poderoso o ser retrógrado pode ser... O país não suporta mais um governo de palhaços.
(continua amanhã)