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Tentar reduzir W. a um objecto de "intervenção" nas actuais eleições (Stone apoia Obama) será, talvez, eficaz no esquematismo pueril de alguns "debates" televisivos, mas será também reduzir o mundo a um maniqueísmo que, neste caso, primeiro que tudo, ignora a complexidade temática e dramatúrgica do próprio filme. De facto, aquilo que Stone filma é a desproporção entre a história pessoal de Bush (como ele diz, um "falhado" aos 40 anos e o homem mais poderoso do mundo aos 55) e os efeitos concretos do seu trabalho como Presidente. Na mais nobre tradição política de Hollywood (Stone já citou Frank Capra e Preston Sturges e só podemos reconhecer a justeza da sua evocação), W. é um prodigioso exercício sobre a ambivalência simbólica de todas as formas de poder. Por mais estranho que isso possa parecer a quem ainda não viu o filme, semelhante olhar justifica a palavra com que o cineasta caracteriza o seu discurso cinematográfico: não a "simpatia" (ou "antipatia"), mas a compaixão.