Não vai ser fácil lidar com a avalancha de preconceitos — isto é, literalmente, pré-conceitos — que se vão abater sobre W., o filme de Oliver Stone sobre George W. Bush (estreia portuguesa: 23 de Outubro). Basta atentar no que está a acontecer nos EUA — vale a pena, a esse propósito, conhecer o diálogo do realizador com Larry King, na CNN.
Tentar reduzir W. a um objecto de "intervenção" nas actuais eleições (Stone apoia Obama) será, talvez, eficaz no esquematismo pueril de alguns "debates" televisivos, mas será também reduzir o mundo a um maniqueísmo que, neste caso, primeiro que tudo, ignora a complexidade temática e dramatúrgica do próprio filme. De facto, aquilo que Stone filma é a desproporção entre a história pessoal de Bush (como ele diz, um "falhado" aos 40 anos e o homem mais poderoso do mundo aos 55) e os efeitos concretos do seu trabalho como Presidente. Na mais nobre tradição política de Hollywood (Stone já citou Frank Capra e Preston Sturges e só podemos reconhecer a justeza da sua evocação), W. é um prodigioso exercício sobre a ambivalência simbólica de todas as formas de poder. Por mais estranho que isso possa parecer a quem ainda não viu o filme, semelhante olhar justifica a palavra com que o cineasta caracteriza o seu discurso cinematográfico: não a "simpatia" (ou "antipatia"), mas a compaixão.