quinta-feira, setembro 25, 2008

O golpe de "teatro" de McCain

Subitamente, na noite de 24 para 25 de Setembro, o senador John McCain veio anunciar que suspendia a sua campanha, de modo a poder regressar a Washington e ajudar no trabalho legislativo para tentar superar a grave crise financeira em que os EUA mergulharam. Foi assim.



Na prática, esta tomada de posição traduz-se na retirada de McCain daquele que seria o primeiro debate (marcado para sexta-feira à noite, madrugada de sábado em Portugal) entre o republicano e o democrata candidatos à Casa Branca. Rapidamente surgiu a resposta de Barack Obama, considerando que o debate se deve realizar, não apesar da situação económica, mas por causa dela — como ele lembrou, o homem que for eleito daqui a cerca de 40 dias, vai ter que "lidar com esta confusão".



Bizarra conjuntura, sem dúvida. Mesmo que possamos encarar o gesto de McCain como uma simples manifestação de patriotismo e responsabilidade política, essas são componentes automaticamente desvalorizadas por um efeito muito prático de tal gesto: a sua retirada do próprio espaço mediático de discussão de tudo o que está em jogo nos EUA, e em particular de discussão com o outro candidato.
Aliás, atentos a tal contradição, alguns democratas já chamaram a atenção para aquilo que seria um "golpe" do campo de McCain. O mais desconcertante é que a "teatralidade" do discurso de McCain parece nascer de um desconhecimento real da paisagem mediática — e, em particular, televisiva — em que, hoje em dia, acontece o combate político. Como se uma personalidade política acreditasse que os seus estados de alma podem determinar a organização dessa paisagem.
Para a história, esta retirada de McCain ficará como insolitamente naïf. É bem verdade que, por vezes, a ingenuidade (real ou aparente) adquire uma imensa força política. Resta saber se, num mundo tão mediaticamente cruel, McCain não começa, aqui, a encenar o princípio do seu próprio fim.