sexta-feira, setembro 05, 2008

Mudança?...

John McCain pode não ser um ás da oratória. Não o é, de todo! Mas o discurso de aceitação da nomeação republicana, esta noite, mostrou trunfo no jogo da sua candidatura. Em contraste com a postura essencialmente apontada às bases mais conservadoras do partido republicano e à pose de ataque cerrado a Barack Obama do discurso de Sarah Palin na noite anterior, McCain falou, em tom quase ecuménico, para um largo espectro de gentes e sensibilidades. Deixando claro que se mantém firme junto de ideais conservadores (trabalho, religião, defesa forte, responsabilidade pessoal, vida...), falou de entendimento e deixou no ar que uma administração sua contaria com republicanos, democratas e as “melhores ideias”. A tónica “biográfica” que caracterizou muito do discurso da convenção republicada passou ontem pela própria voz de McCain, recordando a passagem pelo Vietname, a luta contra a corrupção e algumas outras causas. Usou depois uma sucessão de frases de retórica, daquelas que agitam plateias em sintonia. Mas também falou em concreto ao avisar que vai actuar contra gastos excessivos do aparelho de estado, apostar em mais exploração de petróleo nacional, reduzir a quantidade de fundos enviados para países estrangeiros “que não gostam de nós”... Falou ao americano comum, à gestão da sua casa e família: aos seus dólares na carteira. Garantiu que a sua administração não empregará muita gente. Levantou uma nova política de impostos. Sugeriu até um planeta limpo... Não convenceu quando entrou no ping pong “ele vai fazer isto, mas nós o contrário”, sem especificar exactamente o quê em cada crítica apontada, certo sendo sempre que “eles” eram os maus e “ele” e os seus, os “bons”... Logo no início do discurso agradeceu a Bush, correndo o risco de ver agora a campanha democrata a usar contra si estas palavras, dada a extrema impopularidade da actual administração. Mas McCain marcou depois pontos ao assumir que o partido republicano se perdeu e seguiu um caminho errado, pelo que há que o reencontrar e mudar. Ou seja, frisou que a sua administração republicana não será a do partido republicano nos últimos tempos... Mudança... Palavra-chave da campanha de Obama nas primárias que McCain agora usa, é a promessa que deixou no ar. Mudar Washington é o desafio que pede aos eleitores... Ele, que faz política em Washington há 26 anos... Acreditarão os americanos na sua mudança?...

A última sondagem (Gallup):
Ainda não refelecte, naturalmente, o discurso de McCain e talvez traduza ainda mal o eventual impacte do de Sarah Palin. Mantém forte liderança para Obama, com ligeira descida de McCain.

Barack Obama: 49%
John McCain: 42%