Para quando o muito ansiado "retorno" do musical?. Em boa verdade, continua a haver filmes musicais, melhores ou piores, mas não uma capa-cidade de reinvenção artística e comercial do próprio género — este texto foi publicado no Diário de Notícias (4 de Setembro), com o título 'Quem acredita no musical?'.
Vale a pena confrontar os resultados, esforçados e apenas sim-páticos, de Mamma Mia! com o fulgor de Hairspray, o musical com John Travolta e Michelle Pfeiffer estreado há cerca de um ano. É certo que as suas raízes são bem diversas: Mamma Mia! tem como base as canções dos Abba, enquanto Hairspray se inspira no filme homónimo de John Waters, rodado em 1988 e transformado em objecto de culto da produção independente americana. Em todo o caso, ambos surgem “filtrados” pela passagem pelos palcos da Broadway e do West End londrino.
Mas o que distingue os dois filmes está para além das suas origens. É uma questão de natureza conceptual que, em última instância, se transforma num problema de crença: Hairspray acredita na tradição do género musical, retomando sem complexos um modelo que encontra nos artifícios do estúdio as matérias primordiais de encenação; Mamma Mia!, um pouco ao contrário, não mostra grande confiança em tais artifícios, sentindo quase sempre a necessidade de “colar” interiores e exteriores, não tanto para enriquecer o próprio espectáculo, mas como quem avisa: “Não se assustem, que isto não é um musical da MGM dos anos 50...” Antes fosse, dizemos nós.
Em boa verdade, Mamma Mia! é apenas um sintoma de uma regra (de que Hairspray era uma radiosa excepção): a do sistemático desmante-lamento dos modelos clássicos de produção, no imaginário do público e da própria indústria substituídos por uma adoração beata dos “efeitos especiais”, não poucas vezes na base dos exercícios mais medíocres do cinema contemporâneo.
Claro que Mamma Mia! envolve muita gente competente, a começar por Meryl Streep, Julie Walters e Christine Baranski [foto], as senhoras que asseguram a ironia (melo)dramática do empre-endimento. O certo é que o filme acaba por se alhear das mais simples potencialidades do cinema, funcionando quase sempre como uma acumulação de rotineiros clips televisivos. A provar, afinal, que este é um objecto que nasce mais de uma ideia de marketing do que de um conceito de espectáculo.
Vale a pena confrontar os resultados, esforçados e apenas sim-páticos, de Mamma Mia! com o fulgor de Hairspray, o musical com John Travolta e Michelle Pfeiffer estreado há cerca de um ano. É certo que as suas raízes são bem diversas: Mamma Mia! tem como base as canções dos Abba, enquanto Hairspray se inspira no filme homónimo de John Waters, rodado em 1988 e transformado em objecto de culto da produção independente americana. Em todo o caso, ambos surgem “filtrados” pela passagem pelos palcos da Broadway e do West End londrino.
Mas o que distingue os dois filmes está para além das suas origens. É uma questão de natureza conceptual que, em última instância, se transforma num problema de crença: Hairspray acredita na tradição do género musical, retomando sem complexos um modelo que encontra nos artifícios do estúdio as matérias primordiais de encenação; Mamma Mia!, um pouco ao contrário, não mostra grande confiança em tais artifícios, sentindo quase sempre a necessidade de “colar” interiores e exteriores, não tanto para enriquecer o próprio espectáculo, mas como quem avisa: “Não se assustem, que isto não é um musical da MGM dos anos 50...” Antes fosse, dizemos nós.
Em boa verdade, Mamma Mia! é apenas um sintoma de uma regra (de que Hairspray era uma radiosa excepção): a do sistemático desmante-lamento dos modelos clássicos de produção, no imaginário do público e da própria indústria substituídos por uma adoração beata dos “efeitos especiais”, não poucas vezes na base dos exercícios mais medíocres do cinema contemporâneo.
Claro que Mamma Mia! envolve muita gente competente, a começar por Meryl Streep, Julie Walters e Christine Baranski [foto], as senhoras que asseguram a ironia (melo)dramática do empre-endimento. O certo é que o filme acaba por se alhear das mais simples potencialidades do cinema, funcionando quase sempre como uma acumulação de rotineiros clips televisivos. A provar, afinal, que este é um objecto que nasce mais de uma ideia de marketing do que de um conceito de espectáculo.