Johannes Brahms (1833-1897) foi um dos compositores musicologicamente mais atentos e bem informados do seu tempo, juntando à vivência (e invenção) do presente um profundo conhecimento da história da música. A sua relação com a memória não se esgotava num relacionamento com o classicismo vienense, abarcando outras épocas e referências. Tinha autógrafos de outros compositores e uma extensa colecção de partituras. Entre esta colecção encontrava-se uma edição das obras completas de Bach. O trigésimo volume desta série foi publicado em 1884, pouco depois de Brahms ter estreado a sua terceira sinfonia. O volume incluía a cantata Nach dir, Herr, verlanget mich, que se crê ter sido uma das primeiras composições de Bach. Brahms terá então apresentado a alguns amigos, entre os quais o maestro Hans von Bülow, uma transcrição ao piano desta cantata. Da conversa que nasceu depois desse momento surgiu o desafio de criar um andamento sinfónico baseado nessa obra de Bach. Assim nasceu a base da quarta (e derradeira) sinfonia de Brahms, na qual o desenvolvimento sinfónico da fonte de reflexão original em Bach se apresenta, sobretudo, no quarto andamento. A sinfonia é uma obra imponente e elegante, muitas vezes apontada, juntamente com Ein Deutsches Requiem, como uma das obras-primas do compositor.
O disco agora editado pela Harmonia Mundi apresenta uma gravação recente desta quarta sinfonia de Brahms pela Deutsches Symphonie Orchester, de Berlim, sob direcção de Kent Nagano. O alinhamento inclui uma obra formalmente construía sob outras regras (o dodecafonismo), mas igualmente com Bach como fonte de inspiração: as Variações para Orquestra Op. 31 de Arnold Schoenberg (1874-1951).