Os inquéritos diários do IMDb constituem uma prática interessante, mesmo se por vezes celebram as visões mais fúteis do mundo do cinema (recentemente perguntava-se: "Quando penso na frase 'actor careca', imagino logo..."). Há dias, foi formulada uma pergunta muito curiosa, e também muito oportuna: "Como viu pela primeira vez o seu filme favorito?"
Responderam 18818 pessoas. Poderá dizer-se que se trata de um conjunto arbitrário, sem qualquer lógica estatística devidamente tratada. É verdade. Ainda assim, é difícil não reconhecer aos resultados algum valor sintomático: 8767 respostas — 46,6 % do total — são de visitantes que viram pela primeira vez o seu filme preferido em DVD ou video. Quer isto dizer que quase metade elege um filme preferido que não descobriu em sala. A percentagem dos que respondem "numa sala" é de 28,9.
A mensagem é esclarecedora: há já um lote muito significativo de espectadores cujo imaginário cinematográfico se enraiza na experiência dos ecrãs caseiros. Tais espectadores não são "melhores" nem "piores" do que aqueles que os precederam. Em todo o caso, importa reconhecer um óbito. Qual? O da cinefilia clássica ou, se preferirem, do conceito clássico de cinefilia. Porquê? Porque, para tal conceito, a sala era o templo de todos os rituais.