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Nas margens do spot, importa voltar a reconhecer um fenómeno igualmente perturbante: a inteligência atrai a frivolidade moral e, pior do que isso, a ignorância estética. Assim, porventura inevitavelmente, podemos perceber pelos meios de comunicação que já apareceram as vozes alarmistas — e como é que as crianças vão interpretar uma "coisa" tão complexa? É espantoso, de facto: não só se desresponsabilizam automaticamente os adultos que estão com as crianças, como se renova todo um dramatismo "profilático", enquanto se passam os dias com as nossas crianças a serem injectadas com Morangos com Açúcar e muitas outras formas de lixo cultural e... ninguém diz nada.
Entretanto, uma rápida viagem pelo "debate" na Internet permite também perceber que há muito boa gente preocupada com a "inverosimilhança" da mensagem — os animais não se suicidam. Ainda mais espantoso: de repente, como se estivéssemos em pura reality TV, a ficção está "obrigada" a viver de um naturalismo imediatista e pornográfico. Será que o Pinóquio é uma banalidade porque os narizes das pessoas não crescem assim? E o pobre do Kafka, o que que é ele estava a pensar quando escreveu a Metamorfose? Um homem transformado em insecto? Julgam que nos deixamos enganar? Isto para não falar, claro, desse filme sem nexo que é Encontros Imediatos do Terceiro Grau. Não sabiam? Ainda hoje o pobre do Spielberg não conseguiu provar que aqueles extraterrestres vieram visitar o nosso planeta... Francamente, ponham na ordem os contadores de histórias!