
É provável que, entre os espectadores que ouviram a voz de Paul Newman assumindo uma das personagens burlescas do desenho animado Carros (2006), muitos deles nunca tenham visto um único dos seus filmes. De facto, sabemos que as gerações mais jovens são sistematicamente (e televisivamente) alimentadas por preconceitos em relação ao cinema “antigo”, a ponto de desconhecerem a maioria das suas referências fundamentais.
Aliás, Newman (nascido em 1925) pertence a uma geração de actores que, em boa verdade, revolucionou o modo de representar do cinema americano. Tal como Marlon Brando ou James Dean (nascidos, respectivamente em 1924 e 1931), Newman passou pelo Actors Studio, essa instituição que ajudou a impor nos filmes as subtilezas técnicas e emocionais do Método, de Stanislavski, anteriormente aplicado nos palcos.

O apagamento de muitas memórias desse cinema (apesar das edições em DVD...) é reforçado, no caso de Newman, pelo escasso conhecimento do seu trabalho como cineasta. Embora não muito vasta (seis títulos, incluindo um telefilme), a sua filmografia como realizador integra o fundamental testemunho de alguém que se formou num cinema não “dependente” das últimas proezas dos técnicos de efeitos especiais, mas enraizado num valor básico: o actor e o seu trabalho específico. Filmes como Raquel, Raquel (1968) ou Algemas de Cristal (1987), ambos com sua mulher Joanne Woodward, são a brilhante ilustração de um olhar cujo classicismo continua a distinguir-se por uma subtil e fascinante modernidade.