Segundo notícias recentes, Paul Newman sofre de um cancro terminal, tendo pedido aos seus médicos para ser transferido para casa. O actor foi tema de um dossier do Diário do Notícias (16 de Agosto), no qual se incluíu o texto que se segue, publicado com o título 'Clássico mas muito moderno'.
É provável que, entre os espectadores que ouviram a voz de Paul Newman assumindo uma das personagens burlescas do desenho animado Carros (2006), muitos deles nunca tenham visto um único dos seus filmes. De facto, sabemos que as gerações mais jovens são sistematicamente (e televisivamente) alimentadas por preconceitos em relação ao cinema “antigo”, a ponto de desconhecerem a maioria das suas referências fundamentais.
Aliás, Newman (nascido em 1925) pertence a uma geração de actores que, em boa verdade, revolucionou o modo de representar do cinema americano. Tal como Marlon Brando ou James Dean (nascidos, respectivamente em 1924 e 1931), Newman passou pelo Actors Studio, essa instituição que ajudou a impor nos filmes as subtilezas técnicas e emocionais do Método, de Stanislavski, anteriormente aplicado nos palcos.
Brando, a partir de Um Eléctrico Chamado Desejo (1951) [cartaz], de Elia Kazan, ou Dean, com A Leste do Paraíso (1955), também de Kazan, são fundamentais para compreender tal dinâmica artística. Mas o mesmo se poderá dizer de algumas das primeiras composições de Newman em cinema, nomeadamente Marcado pelo Ódio (1956), de Robert Wise, biografia do pugilista Rocky Graziano, Gata em Telhado de Zinco Quente (1958), de Richard Brooks, adaptando a peça de Tennessee Williams, ou ainda esse fabuloso e esquecido western que é Vício de Matar (1958) [foto], estreia cinematográfica de Arthur Penn, futuro realizador de Bonnie e Clyde.
O apagamento de muitas memórias desse cinema (apesar das edições em DVD...) é reforçado, no caso de Newman, pelo escasso conhecimento do seu trabalho como cineasta. Embora não muito vasta (seis títulos, incluindo um telefilme), a sua filmografia como realizador integra o fundamental testemunho de alguém que se formou num cinema não “dependente” das últimas proezas dos técnicos de efeitos especiais, mas enraizado num valor básico: o actor e o seu trabalho específico. Filmes como Raquel, Raquel (1968) ou Algemas de Cristal (1987), ambos com sua mulher Joanne Woodward, são a brilhante ilustração de um olhar cujo classicismo continua a distinguir-se por uma subtil e fascinante modernidade.
É provável que, entre os espectadores que ouviram a voz de Paul Newman assumindo uma das personagens burlescas do desenho animado Carros (2006), muitos deles nunca tenham visto um único dos seus filmes. De facto, sabemos que as gerações mais jovens são sistematicamente (e televisivamente) alimentadas por preconceitos em relação ao cinema “antigo”, a ponto de desconhecerem a maioria das suas referências fundamentais.
Aliás, Newman (nascido em 1925) pertence a uma geração de actores que, em boa verdade, revolucionou o modo de representar do cinema americano. Tal como Marlon Brando ou James Dean (nascidos, respectivamente em 1924 e 1931), Newman passou pelo Actors Studio, essa instituição que ajudou a impor nos filmes as subtilezas técnicas e emocionais do Método, de Stanislavski, anteriormente aplicado nos palcos.
Brando, a partir de Um Eléctrico Chamado Desejo (1951) [cartaz], de Elia Kazan, ou Dean, com A Leste do Paraíso (1955), também de Kazan, são fundamentais para compreender tal dinâmica artística. Mas o mesmo se poderá dizer de algumas das primeiras composições de Newman em cinema, nomeadamente Marcado pelo Ódio (1956), de Robert Wise, biografia do pugilista Rocky Graziano, Gata em Telhado de Zinco Quente (1958), de Richard Brooks, adaptando a peça de Tennessee Williams, ou ainda esse fabuloso e esquecido western que é Vício de Matar (1958) [foto], estreia cinematográfica de Arthur Penn, futuro realizador de Bonnie e Clyde.
O apagamento de muitas memórias desse cinema (apesar das edições em DVD...) é reforçado, no caso de Newman, pelo escasso conhecimento do seu trabalho como cineasta. Embora não muito vasta (seis títulos, incluindo um telefilme), a sua filmografia como realizador integra o fundamental testemunho de alguém que se formou num cinema não “dependente” das últimas proezas dos técnicos de efeitos especiais, mas enraizado num valor básico: o actor e o seu trabalho específico. Filmes como Raquel, Raquel (1968) ou Algemas de Cristal (1987), ambos com sua mulher Joanne Woodward, são a brilhante ilustração de um olhar cujo classicismo continua a distinguir-se por uma subtil e fascinante modernidade.