quinta-feira, agosto 14, 2008

Para (re)descobrir Dennis Wilson

Não são poucas as histórias de criadores cujo talento só mereceu o justificado reconhecimento depois do seu tempo. Na história da música popular podemos evocar vários exemplos, de Nick Drake a Arthur Russell. E a estes podemos acrescentar um outro nome: Dennis Wilson. Na verdade não era bem um ilustre desconhecido. Baterista dos Beach Boys, foi o sex symbol da banda nos dias de 60. Mas a sua imagem atlética ofuscava contudo um talento que, no grupo, poucas vezes teve espaço para se mostrar. E cuja breve carreira a solo passou ao lado das atenções. A presente reedição da sua obra-prima Pacific Ocean Blue (1977), numa edição que lhe junta as canções de Bambu, um segundo álbum que gravou mas não chegou nunca a editar permitem, 25 anos depois da sua morte, um reavaliar da sua vida e obra. Justiça finalmente feita ao (curto) legado de um músico que viveu anos sob a sombra da aclamação global do génio do irmão Brian mas que, na verdade, tinha também em si uma voz criativa capaz do melhor. No alinhamento de Pacific Ocean Blue (re)encontramos um rock de apelo clássico e arranjos de travo épico como moldura para canções que traduzem a melancolia que invadia a alma do músico que, todavia, não abdicava da esperança de dias melhores, num futuro que não imaginava nunca longe do mar...

Nascido em 1944, Dennis Wilson era o irmão do meio dos três manos Wilson que, com o primo Mike Love, o amigo Al Jardine, e sob orientação do pai, Murray, formaram os Beach Boys em 1961. Foi sua a ideia de desafiar o grupo a criar canções sobre a praia, o Sol e o surf... Dennis era, afinal, o único verdadeiro surfista entre os elementos da banda. E rapidamente a sua imagem foi tomada como fulcral na afirmação da identidade colectiva. Nos Beach Boys, contudo, só teve algum espaço para afirmação da sua criatividade a partir de 1968. Chegando, em meados dos anos 70, a repartir temporariamente o lugar de vocalista, acabando contudo por regressar à bateria no final da década.
Da sua história pessoal em finais de 60 conta-se um período no qual partilhou a sua casa com Charles Manson e a comunidade que o acompanhava. Um dia saiu de casa e não voltou. Ao saber dos assassinatos de Agosto de 1969 sentiu medo e remorso. Sombras que, juntamente com episódios da sua vida privada, explicam alguma da melancolia que o tomou nos últimos anos de vida e se manifestou em algumas das canções que então gravou.A morte, acidental, por afogamento, em 1983 (poucos dias depois de ter completado os 39 anos), deixou sem sucessor o álbum de estreia (o primeiro disco a solo de um elemento dos Beach Boys). As sessões de Bambu, agora recuperadas, juntam-se a Pacific Ocean Blue para garantir ao talento de Dennis Wislon o reconhecimento que, em vida, o músico nunca chegou a receber.
PS. Versão editada de texto publicado a 13 de Agosto no DN