Recorrendo ao mais recente patamar de uma tecnologia de criação de imagem digital que tem conhecido avanços nos últimos anos, WALL-E vive, acima de tudo, de um elaborado argumento, desenvolvido pelo próprio realizador, Andrew Stanton, juntamente com Peter Docter.
Em traços largos, WALL-E é a história do último robot que habita a Terra. Ele e uma barata sua amiga... A narrativa evolui para nos mostrar o que acontece quando, um dia, uma sonda (com alma feminina e ar de iPod) aparece em busca de vida... Neste mundo no futuro, o homem não desapareceu. Mas os nossos descendentes vivem num cruzeiro de luxo nas profundezas do espaço. Gordos, muito gordos, deitados em plataformas planadoras, cada qual de ecrã frente aos olhos e com copo XL de refrigerante sempre na mão... Na verdade, o filme traduz o reconhecimento da importância transversal de uma "cultura verde". E alerta, através de cenários com tempero apocalíptico, para desequilíbrios que os comportamentos ambientalmente incorrectos da sociedade dos nossos dias podem causar a médio e longo prazo. Da desolação das paisagens da Terra à camada de detritos que envolve o planeta, das gentes barrigudas e alienadas do futuro ao retrato de uma sociedade dominada pelo apelo ao consumismo absoluto, WALL-E acaba por representar, mesmo não pretendendo ser manifesto "verde", um dos mais eficazes retratos das preocupações ambientalistas que, inevitavelmente, estão na ordem do dia.
Tudo isto sob vários níveis de leitura, com permanente recurso ao humor, recorrendo a curiosas citações a outros filmes.
PS. Versão editada de texto publicado no DN a 14 de Agosto