terça-feira, agosto 05, 2008

John Lennon: o último dia (2)

Em tempo de estreia nacional do filme Capítulo 27 – O Assassinato de John Lennon, continuamos a apresentar a versão editada de um texto publicado em 2005 no DNmúsica que relata o último dia do ex-Beatle.

Depois do almoço, Yoko e John saíram de casa rumo aos estúdios Hit Factory, onde recentemente tinham registado Double Fantasy e trabalhavam já em gravações para um novo álbum (que acabou editado postumamente, sob direcção de Yoko Ono, como Milk And Honey, em 1984), estando até um terceiro já na mente do músico. Na agenda dessa tarde estava uma sessão de trabalho em Walking On Thin Ice, canção com travo disco que reflectia a atenção dos Lennon pelo presente. Pediram boleia à equipa de rádio que os havia entrevistado horas antes. Foi então que um jovem se aproximou de Lennon, cópia de Double Fantasy na mão. Pediu-lhe um autógrafo. O fã chamava-se Mark Chapman. O momento foi captado numa fotografia, que na altura se julgava mais uma entre milhares de anónimas situações de vénia do fã perante o ídolo...
Mark Chapman, 25 anos na altura, era admirador obsessivo dos Beatles e de Lennon em particular. Residia em Honolulu, no Hawai e tinha chegado semanas antes a Nova Iorque, com 14 horas de música dos Beatles, em cassetes e um desejo mórbido de matar... John Lennon . Começara por se instalar no YMCA, na rua 62, perto do Dakota. Mas ao julgar-se observado por um homem, fez a mala e fugiu para o Sheraton, dez quarteirões mais abaixo. Chapman exibia já sinais de perturbação mental desde há dez anos quando, ainda nos dias de escola, começou a sofrer evidentes mudanças, recordadas pelos colegas. Outrora calmo e quase invisível, deixou crescer o cabelo e começou a usar uniformes militares. Falava de gentes que habitavam o seu quarto antes mesmo de se entregar ao LSD. Teve uma depressão na Universidade, diversas tentativas de suicídio e reinventou a paz em si através de uma entrega à fé cristã. A música não deixou, nunca, de estar entre as suas prioridades, discografia particular dominada por álbuns dos Beatles. A figura inspiradora de John Lennon conduziu algumas das suas opções, do corte de cabelo ao estilo de óculos adoptados, não esquecendo sequer o casamento com uma mulher de ascendência japonesa...
A "visita" a Lennon estava na sua mente desde Outubro quando, ao ler um artigo na Newsweek, sentiu o músico retratado como uma fraude. Mergulhou nas gravações dos Beatles em busca de pistas e provas para construir uma opinião. O milionário famoso não podia ser o mesmo que pregava paz e amor, pensou... Em meados de Outubro, em Honolulu, comprou uma biografia de Lennon , One Day At A Time, de Anthony Fawcett. Para si não havia mais dúvidas... Lennon era uma “mentira” e só o silêncio a podia apagar. Um silêncio de morte... Chapman começou a preparar o que precisava, começando por pedir cinco mil dólares emprestados. Poucos dias depois comprou uma pistola de calibre 38. 169 dólares e umas balas. E em inícios de Novembro voou para Nova Iorque.Durante cinco dias, Mark Chapman cirandou em volta do Dakota, na esquina da rua 72 com o Central Park. Não era o único que por ali esperava Lennon, pequenas multidões novamente reunidas em volta da esquina desde as notícias da edição de DoubleFantasy, com caçadores de autógrafos à espera da sua vez. Cada vez mais ansioso resolveu perguntar ao porteiro pelo ex-Beatle. O casal estava fora... Estávamos a 9 de Novembro e, pela primeira vez, Chapman contou a alguém o que projectava. Telefonou à mulher e disse-lhe que ia matar John Lennon.