Stephin Merritt não enganou ninguém. E, conforme havia revelado ao DN, a terceira actuação lisboeta dos Magnetic Fields apresentou única e exclusivamente instrumentos acústicos, ignorando assim a sugestão "eléctrica" da distorção, opção transversal aos temas do álbum Distortion, publicado já este ano. Com sala composta, todavia longe de esgotada, a actuação dos Magnetic Fields revelou perto de duas horas (intervalo incluído) de canções tranquilamente interpretadas em atmosfera intimista e, sobretudo, informal. Opção que não demoveu, contudo, o vocalista Stephin Merritt de mandar calar uma voz conversadora na primeira fila das doutorais. O silêncio na sala é, de resto, uma condição exigida pelo músico que canta em voz baixa. Tanto que, antes da primeira canção, se queixou também do ruído do ar condicionado. O calor da noite deu contudo razão às máquinas e o espectáculo avançou, sem demoras.
O alinhamento escolhido percorreu as várias bandas de Stephin Merritt, dos próprios Magnetic Fields aos Future Bible Heroes, Gothic Archies, The 6ths, sem esquecer canções do álbum a solo Showtunes. Os grandes momentos da noite, além da memória do "clássico" 69 Love Songs, couberam a canções de Distortion, reduzidas à simplicidade dos arranjos acústicos. California Girls ou Zombie Boy, entre algumas outras mais, revelaram a alma primordial das canções do disco vestido com farda eléctrica, quase sempre acabando por seduzir mesmo os que não se deixaram encantar pelo álbum menos unânime da banda. Excepção para o instrumental de abertura Three-Way, absolutamente inconsequente sem o muro de electricidade do arranjo em disco. Noite suave, com uma banda veterana segura de si. Bom clima em palco e frequentes acessos de humor entre temas deixaram os presentes satisfeitos. Não se repetiu o efeito do mítico concerto no CCB. Mas foi bem melhor que a última visita.
PS. Texto publicado a 29 de Julho, no DN