Há poucos dias, no seu show televisivo, Tyra Banks conversou com um grupo de pessoas com microcefalia — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 Julho), com o título 'Na companhia dos humanos'.
Nunca acompanhei com regularidade o programa The Tyra Banks Show (SIC Mulher). Pelo que tenho visto, parece-me ser uma solução de compromisso entre o seu estatuto de supermodel e o modelo televisivo de Oprah Winfrey. Ainda que longe da subtileza e eficácia de Oprah, vejo-o como uma tentativa de equilibrar os temas mais ligeiros com algumas entrevistas com claras ressonâncias sociais, combinando as personalidades do entertainment com convidados mais ou menos anónimos.
Há dias, confesso, fui surpreendido por uma edição dedicada a crianças atingidas por microcefalia (deficiência no crescimento cerebral). Aliás, em boa verdade, não de tratava apenas de crianças, uma vez que havia pelo menos uma das convidadas com mais de vinte anos. Eram pessoas (homens e mulheres) marcadas por diversas formas de microcefalia e que, durante muito tempo, a mais primitiva terminologia chamou, pejorativamente, “freaks”. Era mesmo inevitável lembrarmo-nos do espantoso filme de Tod Browning, Freaks (1932), interpretado precisamente por actores com o mesmo tipo de deficiências.
Digamos que não era simples expor, assim, em televisão, tais seres humanos. Não porque existam escondidos. Antes porque, muitas vezes, a televisão tende a explorá-los como personagens de um vulgar circo mediático, quase sempre “desculpando-se” através de um paternalismo avassalador e demagógico. Tyra Banks teve a serenidade suficiente para lidar com os seus tão especiais convidados (incluindo os pais), não para “medir” a sua distância face aos padrões correntes do humano mas, justamente, fazendo ver que não há distância a superar: o humano é tão só a pluralidade de todas as nossas formas e pensamentos, imagens e imaginações.
Desta vez, as câmaras de televisão olhavam a “estranheza” dos seus protagonistas sem fazerem disso um elemento de “choque” ou obscena especulação. Eram imagens frontais, simples e directas, afinal mantendo as regras comuns do próprio talk show. A sua mensagem era muito simples: não saímos do espaço do humano. Nunca saímos.
Nunca acompanhei com regularidade o programa The Tyra Banks Show (SIC Mulher). Pelo que tenho visto, parece-me ser uma solução de compromisso entre o seu estatuto de supermodel e o modelo televisivo de Oprah Winfrey. Ainda que longe da subtileza e eficácia de Oprah, vejo-o como uma tentativa de equilibrar os temas mais ligeiros com algumas entrevistas com claras ressonâncias sociais, combinando as personalidades do entertainment com convidados mais ou menos anónimos.
Há dias, confesso, fui surpreendido por uma edição dedicada a crianças atingidas por microcefalia (deficiência no crescimento cerebral). Aliás, em boa verdade, não de tratava apenas de crianças, uma vez que havia pelo menos uma das convidadas com mais de vinte anos. Eram pessoas (homens e mulheres) marcadas por diversas formas de microcefalia e que, durante muito tempo, a mais primitiva terminologia chamou, pejorativamente, “freaks”. Era mesmo inevitável lembrarmo-nos do espantoso filme de Tod Browning, Freaks (1932), interpretado precisamente por actores com o mesmo tipo de deficiências.
Digamos que não era simples expor, assim, em televisão, tais seres humanos. Não porque existam escondidos. Antes porque, muitas vezes, a televisão tende a explorá-los como personagens de um vulgar circo mediático, quase sempre “desculpando-se” através de um paternalismo avassalador e demagógico. Tyra Banks teve a serenidade suficiente para lidar com os seus tão especiais convidados (incluindo os pais), não para “medir” a sua distância face aos padrões correntes do humano mas, justamente, fazendo ver que não há distância a superar: o humano é tão só a pluralidade de todas as nossas formas e pensamentos, imagens e imaginações.
Desta vez, as câmaras de televisão olhavam a “estranheza” dos seus protagonistas sem fazerem disso um elemento de “choque” ou obscena especulação. Eram imagens frontais, simples e directas, afinal mantendo as regras comuns do próprio talk show. A sua mensagem era muito simples: não saímos do espaço do humano. Nunca saímos.