domingo, julho 13, 2008

Emmylou na primeira pessoa

Era uma adepta da folk, mas, filha de um militar veterano de guerra e prima de um soldado morto no Vietname, nunca deixou que o discurso político, efervescente em finais de 60, se confundisse com a busca de uma personalidade musical. Em 1971 foi "descoberta" por Gram Parsons, com quem gravou dois discos e descobriu primeiras sugestões menos convencionais para abordar (e transformar) o universo da country, aquela que era então a mais conservadora das expressões da música popular americana. Uma música que acabou por transformar, libertando-a de constrangimentos, abrindo-a ao diálogo com outras e novas referências. Trinta e nove anos depois de gravado um primeiro disco, Emmylou Harris é uma veterana aclamada e admirada. A nomes como os de Johnny Cash, Bob Dylan ou Neil Young juntou, nos últimos tempos, colaborações com os Bright Eyes, Beck ou Ryan Adams. Não admira que, ao lançar All I Intended To Be, um dos mais autobiográficos dos seus discos, no qual participam velhos colaboradores seus como Dolly Parton, Vince Gill ou as irmãs McGarrigle, conquiste aquele patamar de consagração a que só chegam os gigantes da música popular.
A sua obra conheceu curiosa evolução. Começou por procurar o derrubar das barreiras entre os universos da country e da cultura rock'n'roll. Ao assinar versões de figuras como Townes Van Zandt ou Gillian Welsh, mostrou que nem só das mais antigas tradições vivia a country. Plateias mais jovens que o habitual nesses domínios, aderiram ao desafio. E então Emmylou Harris assegurou a estes novos ouvintes um contacto com as fundações do género, aos seus nomes e mitos tradicionais. Aos 61 anos, mantém intensa actividade. E, cinco anos depois, de Stumble Into Grace, apresenta um disco que fala do tempo perdido, a perda, a morte... e do que se segue.
PS. Versão editada de texto publicado no DN a 6 de Julho