quarta-feira, julho 09, 2008

Em conversa: Sparks (3/3)

Concluímos hoje a publicação de uma entrevista com Ron Mael, dos Sparks. Esta é uma versão editada de um texto originalmente publicado no DN, em 2003.

Reparam quando alguém faz uma versão de uma canção vossa?
Sim... Acontece tão poucas vezes que reparamos inevitavelmente (risos). Gostei muito da versão de Never Turn Your Back On Mother Earth pelo Martin Gore, dos Depeche Mode. A voz estava angelical...

Antes dos Sparks, quando eram apenas dois irmãos a viver na mesma casa, já ouviam música com o sonho de fazer discos?
Nem por isso. Comprávamos discos, claro, mas eu seguia o meu caminho para estudar design industrial e o Russel ia para a escola de cinema. A música era um hobbie, cada qual na sua área. Mas a dada altura decidimos juntar as forças, mas sem qualquer plano...

Têm momentos de vida familiar sem falar dos Sparks?
Na verdade nem por isso! (risos)... Fazemos muito pouco além de ser Sparks. Focamos todo o nosso tempo no trabalho... Tudo tem a ver com uma disciplina de trabalho. O Russel tem um estúdio em casa e isso ajuda muito. É muito importante para nós estarmos sempre a trabalhar. Até porque estamos constantemente à procura de nos impressionar a nós próprios.

Têm uma espécie de bitola de exigência para convosco?
Temos, sim. Não basta a novidade. Temos de nos surpreender. Há um nível de exigência alto e isso não é fácil. Isso já vem dos anos 70. Não temos uma máquina promocional para fazer com que as pessoas se entusiasmem connosco, por isso temos de deixar esse trabalho para a música. Há outras bandas que, como nós, já por aqui estão há 30 anos, mas limitam-se a repetir e refinar o que já fizeram. Isso não nos basta.

Em 1997, em Plagiarism, convidaram músicos para, convosco, reinventar as vossas próprias canções. Houve mais desafio ou puro prazer nesse projecto?
Foi um disco muito agradável de fazer. Trabalhámos com os Erasure, o Jimmy Sommerville e os Faith No More. Com estes últimos fomos até a São Francisco para gravar. Mas o melhor desse álbum foi o facto de termos o Tony Visconti a fazer orquestrações para as nossas canções mais antigas.

Sempre houve histórias incríveis à vossa volta. Uma das mais clássicas foi a frase “vi Hitler na televisão”, por John Lennon, quando reparou em si...
É verdade... Foi quando tocámos no Top Of The Pops. Fiquei feliz por ter sido o John Lennon a dizê-lo. Não gostei tanto do conteúdo...Mas qualquer comparação pelo John Lennon é sempre boa!

Mas houve mais histórias...
Sim... Nos anos 70 démos tantas entrevistas, que por vezes contávamos pequenas mentiras para não nos aborrecermos. Numa entrevista dissemos que a Doris Day era a nossa mãe... O filho dela era um produtor que chegou a trabalhar com os Beach Boys e, numa ocasião em que fomos à Escandinávia disseram-nos que havia um cheque para nós, vindo de uma qualquer herança... Contámos, então, que tinha sido uma mentira... Muitas outras vezes inventávamos nomes falsos... Hoje temos mais cautela...

Já identificaram a vossa herança musical em outros músicos?
Hoje parece uma coisa óbvia, mas isso de haver música de dança feita por bandas não existia. Talvez tenhamos desempenhado o nosso papel nessa história, mas claro que não fomos os únicos. A excentricidade na música é também um capítulo em que talvez tenhamos dado alguma ajuda... São generalidades...