terça-feira, julho 08, 2008

Em conversa: Sparks (2/3)

Continuamos a publicação de uma entrevista com Ron Mael, dos Sparks. Esta é uma versão editada de um texto originalmente publicado no DN, em 2003.

A sátira é uma das vossas armas predilectas?
Gostamos de usar a sátira, a menos que a sua utilização não tenha uma consequência no plano estético. Caso contrário não acrescenta nada. Usar o humor numa canção apenas para fazer rir não é o que nos interessa. Procuramos um humor que possa acrescentar outra camada à canção.

Um dos maiores equívocos em redor dos Sparks é a frequente rotulagem do grupo como “um dos mais antigos duos de sintetizadores”. Não lhe parece uma visão redutora, até porque têm muitos discos de guitarras?
É, sem dúvida, uma visão muito limitada. Frequentemente somos convidados para participar nas mais variadas digressões, seja em reuniões de bandas dos 70 ou em “pacotes” com bandas dos anos 80. Mas recusamos sempre esse tipo de convites, até porque não nos queremos transformar nos padrinhos da pop electrónica ou lá o que quer que seja! Naturalmente temos um enorme orgulho nos trabalhos que fizemos nas mais diversas áreas, mas a nossa visão sobre a nossa obra é mais moderna.

Concorda que esse “lugar comum” que vos identifica como banda electrónica se deve ao impacte de Number One Song In Heaven, de 1979?
Pode ser verdade, sim. A canção teve um evidente impacte estilístico e pode ter desencadeado opiniões desse género. O disco era, na verdade, significativamente original para o seu tempo, e acredito que possa ter influenciado outras bandas que tenham reparado nele. Mas não era o tipo de coisa que nos apetecia fazer toda a vida.

Num passado ainda mais remoto chegaram a deixar a Califórnia e mudaram-se de armas e bagagens para Londres. Porquê?
Foi nos finais de 1973, e ficámos por lá perto de três anos. Foi importante a mudança porque já tínhamos editado dois álbuns nos Estados Unidos e nada tinha acontecido... Fomos fazer promoção e um concerto em Londres e acabámos com uma proposta de contrato da Island Records! Os ingleses compreenderam-nos melhor que em Los Angeles. De resto, nós próprios sempre nos sentimos mais influenciados por bandas inglesas que americanas. Fazer as malas e ir para Londres fio quase um sonho. Ainda hoje creio que há uma melhor relação com a música pop em Inglaterra que em Los Angeles, apesar de estarmos de volta há já muitos anos.

A canção This Town Ain't Big Enough For Both Of Us, de 1974, costuma ser incluída em alinhamentos de compilações sobre o glam rock. Que comentário isto lhe merece?
Estivemos em Londres na altura em que o glam rock estava a acontecer, mas nunca nos relacionámos directamente com esses grupos. Há uma tendência para agrupar as bandas em fenómenos para as classificar, mas nunca nos vi como uma banda glam. É claro que a imagem, que sempre teve um papel muito importante para nós, possa ter tido alguma responsabilidade pelo aparecimento dessa ideia.
(conclui amanhã)