sábado, junho 14, 2008

Jean Desailly (1920 - 2008)

Não foi, por certo, por mero dever protocolar que o Presidente da República Francesa homenageou a memória de Jean Desailly — falecido, aos 87 anos de idade, ele era, de facto, uma figura de referência para os espectadores franceses, sobretudo através da sua longa e brilhante carreira teatral, nomeadamente na Comédie Française e na Companhia Renaud-Barrault; aliás, Desailly distinguiu-se também como director teatral, tendo estado à frente do lendário Théâtre de la Madeleine, em Paris, entre 1980 e 2002.
De qualquer modo, desde meados da década de 40, participou em mais de meia centena de filmes, muitas vezes chamado para personagens históricas — por exemplo, em 1954, interpretou Marivaux, em Si Versailles M'Était Conté, sob a direcção de Sacha Guitry. Um dos papéis essenciais para o seu reconhecimento público surgiu em 1958, em Maigret Tende un Piège, adaptação de um romance de Georges Simenon dirigida por Jean Dellanoy e protagonizada por Jean Gabin.
Embora nunca tenha sido um actor "oficial" da Nova Vaga, surgiu em dois filmes marcantes da época da sua afirmação: Le Doulos / O Denunciante (1962), de Jean-Pierre Melville (com quem voltaria a filmar Un Flic / Cai a Noite sobre a Cidade, em 1972), e La Peau Douce / Angústia (1964), de François Truffaut, contracenando com Françoise Dorléac [foto]. Este filme, porventura o mais belo e amargo retrato da ilusão amorosa assinado por Truffaut, centrava-se na relação secreta entre um homem de negócios e uma hospedeira de bordo, em grande parte tendo como cenário a cidade de Lisboa — o filme resultou, aliás, de uma coprodução envolvendo França, Portugal e Inglaterra, sendo António da Cunha Telles o produtor da parte portuguesa.
> Trailer de La Peau Douce (título inglês: The Soft Skin).