Herman José está a apresentar um novo concurso, provando que a noção de divertimento merece ser inteligentemente sustentada — es-te texto foi publicado no Diário de Notícias (20 Junho), com o título 'O verdadeiro concurso'.
Não há muito tempo, com A Hora H, tivemos a experiência penosa de ter que atravessar sonolentas madrugadas para poder ver o nosso melhor humorista de televisão. Agora, felizmente, num país em que todos os dias se assiste à degradação dos valores do espectáculo televisivo, Herman José regressou ao seu lugar natural: o horário nobre. Acontece com Chamar a Música (SIC, domingo, 21h45), além do mais um programa que demonstra que é possível fazer um concurso de televisão sem transformar concorrentes e espectadores em símbolos de uma bizarra paralisia mental.
De facto, há qualquer coisa de estranhamente pueril, para não dizer irresponsável, no facto de, com o tempo, alguns concursos (mesmo os que oferecem dispositivos mais interessantes) se terem transformado numa espécie de disparatada tertúlia “familiar”. Com o mesma à vontade e displicência, fala-se de coisas fúteis como os hobbys dos concorrentes e assuntos gravíssimos como as tensões da geopolítica mundial... Tudo enquanto se faz esperar o espectador por aquilo que, supostamente, é a razão do próprio espectáculo. A saber: a mecânica do concurso.
Herman José conduz Chamar a Música através de um calculado equilíbrio: por um lado, celebrando as referências musicais que constituem a matéria viva (e o desafio) do concurso; por outro lado, transformando a sua apresentação numa de metódica revisitação do seu próprio património cómico feito de muitas personagens e outras tantas vozes.
Além do mais, Chamar a Música tem sido conduzido com um notável espírito de fair play. Vencedores e vencidos são igualmente valorizados pelo espectáculo, evitando favorecer os mais rasteiros mecanismos de competição, mas também recusando esse espírito de “irmandade” que transforma alguns programas do género em verdadeiros sermões do mais demagógico unanimismo televisivo. O que assim se prova não é que o divertimento pode ser inteligente (como se não o soubéssemos...). É que a inteligência é cúmplice do prazer.
Não há muito tempo, com A Hora H, tivemos a experiência penosa de ter que atravessar sonolentas madrugadas para poder ver o nosso melhor humorista de televisão. Agora, felizmente, num país em que todos os dias se assiste à degradação dos valores do espectáculo televisivo, Herman José regressou ao seu lugar natural: o horário nobre. Acontece com Chamar a Música (SIC, domingo, 21h45), além do mais um programa que demonstra que é possível fazer um concurso de televisão sem transformar concorrentes e espectadores em símbolos de uma bizarra paralisia mental.
De facto, há qualquer coisa de estranhamente pueril, para não dizer irresponsável, no facto de, com o tempo, alguns concursos (mesmo os que oferecem dispositivos mais interessantes) se terem transformado numa espécie de disparatada tertúlia “familiar”. Com o mesma à vontade e displicência, fala-se de coisas fúteis como os hobbys dos concorrentes e assuntos gravíssimos como as tensões da geopolítica mundial... Tudo enquanto se faz esperar o espectador por aquilo que, supostamente, é a razão do próprio espectáculo. A saber: a mecânica do concurso.
Herman José conduz Chamar a Música através de um calculado equilíbrio: por um lado, celebrando as referências musicais que constituem a matéria viva (e o desafio) do concurso; por outro lado, transformando a sua apresentação numa de metódica revisitação do seu próprio património cómico feito de muitas personagens e outras tantas vozes.
Além do mais, Chamar a Música tem sido conduzido com um notável espírito de fair play. Vencedores e vencidos são igualmente valorizados pelo espectáculo, evitando favorecer os mais rasteiros mecanismos de competição, mas também recusando esse espírito de “irmandade” que transforma alguns programas do género em verdadeiros sermões do mais demagógico unanimismo televisivo. O que assim se prova não é que o divertimento pode ser inteligente (como se não o soubéssemos...). É que a inteligência é cúmplice do prazer.