sexta-feira, junho 20, 2008

Fado?

A ideologia dominante do futebol e para o futebol tornou-se cega aos simples eventos desportivos, a essa coisa (afinal, maravilhosa) que é a imponderabilidade do jogo. Que um jogo possa ser uma acumulação de algumas coisas previstas e de uma infinitude de peripécias imprevistas, eis o que essa ideologia não consegue conceber — na sua lógica, já não se perdem nem ganham jogos, cumprem-se destinos.
Significa isto que, mais do que nunca, na sociedade portuguesa — e no espaço do jornalismo, em particular — está aberta uma guerra das palavras e pelas palavras, guerra travada através dos seus significados e significações. É uma guerra em que vale a pena dirimir forças, porque se faz não para destruir o outro, mas para definir mapas de ideias e sensibilidades, desenhando fronteiras e contrastes, clivagens e cumplicidades.
A palavra fado, por exemplo. Assistimos ao seu regresso para proclamar que, no fundo, a diferença de golos de um jogo não significa nada e que, por isso mesmo, o fado (da derrota) só pode ser "triste". De tristeza é preciso falar, sem dúvida, quando falamos de fado — mas é possível falar de uma tristeza criativa, e não paralisante. Por mim, gostaria que o fado não se transformasse na "banda sonora" do futebol — e aqui, sim, faço questão em dizer que o digo por um sentimento patriótico.
Já agora, com a devida vénia à RTP Memória, sugiro que vejam. E escutem.