sexta-feira, junho 13, 2008

Algarve news

* The news. A Algarve Film Comission acaba de enviar um mail à comunicação social sobre aquilo que considera a excelente performance do respectivo site. Nele se escreve: "Nos últimos meses, o sistema de marketing on-line 'Google Analytics' contabilizou um total de 22.300 vistas de página, com visitantes oriundos de 37 países diferentes, sendo que nos primeiros lugares estão Portugal, Reino Unido, Estados Unidos da América, Espanha, França, Noruega, Alemanha e Áustria. Além destes também se conta com visitantes de origens tão distintas e distantes como a Austrália, Brasil, Holanda, Itália, Suiça, Emirados Árabes Unidos, Sri Lanka, Líbano ou Uruguai."
* The page views. Sendo esta uma informação que reflecte uma lógica de "celebração" já sensível em mails anteriores (e sem pôr em causa a seriedade e a boa vontade deste organismo e das entidades que o patrocinam), importa dizer algo de muito básico: a Algarve Film Comission anda a correr o risco desnecessário de se cobrir de ridículo, não apenas internamente mas, pelos vistos, em 37 países... De facto, os números apresentados são de uma banalidade confrangedora. Assim, o site da Algarve Film Comission consegue "nos últimos meses" (pelo resto do texto, deduz-se: desde o início de 2008) um número de vistas de página que, por exemplo, este nosso blog obtém, regularmente, em menos de quinze dias. Além do mais, sem contar com apoios que vão desde o turismo local às instituições da União Europeia, o Sound + Vision já teve cliks provenientes de... 136 países!
* The production guide. O ridículo aumenta quando consultamos algumas áreas do site da Algarve Film Comission. Assim, para justificar o carácter atractivo das paisagens algarvias fazem-se listas: de documentários, começando com um filme Leitão de Barros rodado em 1939... e de curtas-metragens, a partir de 1925, com Charlotim e Clarinha, de Roberto Nobre... Tudo isto se agrava quando consultamos o chamado "Production guide" (porque, além do mais, o site ainda só contém a versão inglesa). Aí surgem algumas dezenas de alíneas, desde as instalações hoteleiras à construção de cenários, todas com um zero à frente. Porquê? Clickamos e deparamos sempre com a mesma frase: "There are no resources available" (está tudo "a ser desenvolvido", garante o mail). Entretanto, na primeira página do site, entre os mais recentes progressos cinematográficos da região, surge noticiado o facto de a revista italiana "Io Donna" ter feito um portfolio no Algarve...
* The good intentions. Entendamo-nos: a Algarve Film Comission não é, em si mesma, um problema (e importa desejar-lhe uma actividade de sucesso, capaz de ir atraindo investimento na sua região). A Algarve Film Comission não passa de um sintoma. De quê? Da ausência de uma verdadeira política de produção — concertada entre o Estado e os interesses envolvidos, dos criadores às empresas — para uma cinematografia à nossa escala, capaz de garantir uma diversidade que resista à normalização televisiva que, todos os dias, ganha pontos. Como se diz no mail, a Algarve Film Comission "é uma associação sem fins lucrativos, que pretende promover o desenvolvimento do cinema, multimédia e audiovisual, divulgando a Região do Algarve como local para a realização de produções audiovisuais nacionais e internacionais" — as boas intenções são sempre comoventes; resta-lhes provar alguma eficácia.