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E se Woody Allen estiver apenas a fazer citações de... Woody Allen? E se a sua passagem por Barcelona for apenas uma versão mascarada de um filme que ele (não) fez em Manhattan?
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Não quero ser cruel com um criador que tanto admiro. Nem pretendo apagar o facto de o novo filme de Woody Allen —
Vicky Cristina Barcelona (Selecção Oficial / extra-competição) — possuir alguns detalhes que, obviamente, indiciam um genuíno
know how dramático e narrativo. Mas esta historia dos desencontros amorosos de duas americanas, Rebecca Hall e Scarlett Johansson [foto], em Barcelona possui qualquer coisa de auto-complacência artística, para mais organizada a partir de uma voz
off que serve, acima de tudo, para sublinhar até a redundância as potencialidades de um dispositivo afinal apenas simulado. E, entendam-me, não se trata de esperar mais de Woody Allen... Trata-se, isso sim, de esperar outra coisa de um
filme, sobretudo de esperar que não seja um mero jogo do gato e do rato com os proprios clichés que convoca. Como se Mozart tivesse saido de cena e Salieri pretenda, uma vez mais, fazer-se passar por ele...