terça-feira, maio 13, 2008

Cannes, 13 de Maio de 2008

Começa amanhã. Mas já começou hoje. Que é como quem diz: Cannes da véspera do arranque oficial — 61. edição, 14 a 25 de Maio — é já a imagem de antecipação das glórias prometidas (ou das desilusões sempre possíveis). Em frente do palácio, os turistas fazem-se fotografar com a fachada em fundo. Na "Maison du Porto", restaurante "tradicional" da primeira noite (para alguns portugueses, pelo menos), o empregado reconhece-nos e repete a mesma simpatia de sempre, como sempre falando alternamente em francês e inglês...
Um pouco por todo o lado, a imagem de David Lynch escolhida para o belíssimo cartaz da edição deste ano emerge como uma espécie de ex-libris transitório da pequena localidade do sul da Franca. Dir-se-ia que esta mulher de olhos voluntariamente ocultos nos quer fazer sentir a carga simbólica de alguma coisa: o recato de alguem que já viu tudo, ou a escolha de quem não quer ver mais? O cinema que foi, ou o cinema que virá? Por uma ironia que, por certo, não escapará às gentes do festival, o certame começa este ano sob o signo de uma cegueira também ela carregada de perturbantes simbolismos: Blindness, o filme de Fernando Meirelles que fara a sessão oficial de abertura, baseia-se em Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago — passa amanhã para a imprensa, às 10 horas da manhã.