terça-feira, abril 01, 2008

Em conversa: Rádio Macau (1/3)

Iniciamos hoje a publicação da versão integral de uma entrevista com Xana e Flak, dos Rádio Macau que serviu de base a um artigo publicado na edição de 31 de Março do DN.

Assinalam este ano os 25 anos de Rádio Macau. Como fazem exactamente essas contas?
Flak (F) - O primeiro concerto é em 1983, mas o disco só sai em 1984. Nunca sabemos onde devemos começar a fazer as contas... Mas o primeiro concerto marca... Por isso são 25 anos.

Como se vive como banda por 25 anos?
F
– Tivemos de aprender a viver juntos. Nos primeiros anos estávamos sempre muito próximos. Crescemos juntos. E éramos muito novos quando começámos. E nos primeiros dez anos estivemos permanentemente juntos.

Foram muitos discos seguidos, muitos concertos...
Xana (X) – Nos primeiros sete anos houve uma dedicação absoluta a Rádio Macau.
F – Em 1993, tínhamos uma estrutura grande. Éramos uma banda com... responsabilidades. E logicamente éramos obrigados, pelo menos de dois em dois anos, a fazer um novo disco, se queríamos novidades para uma nova tournée... E tinha então chegado a altura de fazer o disco novo. Chegamos à sala de ensaio, ligamos as coisas para começar a trabalhar, e eu perguntei à Xana se lhe estava a apetecer fazer um disco. Ela disse que não. E eu disse o mesmo. Então resolvemos parar. Suspender...

Essa pausa ajudou a alimentar a vontade de viver uma segunda etapa como Rádio Macau?
X
– Como éramos muito novos, essa suspensão do trabalho também se deveu ao facto de termos sentido que precisávamos de viver outras coisas. De aprender para ter outro tipo de experiências. Fizemos bem. Se tivéssemos continuado mais algum tempo naquele registo, naquele ritmo de pressão, arriscávamo-nos a que Rádio Macau acabasse ao fim de pouco tempo. Essa pausa deu-nos esse espaço em termos pessoais para aprender, para desenvolver a nossa formação.
F – Estávamos a começar a ter interesses diferentes. E quando estamos juntos não os podemos aplicar no mesmo projecto. Tínhamos mesmo que parar, ter a nossa vida e o nosso espaço. Porque cada um de nós nunca tinha tido tempo para um espaço próprio.
X – Depois, em 1998 o Flak fez a mesma pergunta. Apetece fazer um disco? Sim, apetece...

Nesse ano Flak edita um álbum a solo. Onde surge a canção De Azul em Azul, que depois aparece também no álbum de regresso dos Rádio Macau. Essa canção assinala o reencontro?
F – A sonoridade da música adaptava-se bem ao disco dos Rádio Macau, mais até que com o meu disco a solo. O que se passou é que, naquela altura, quando fiz a canção para o disco a solo, senti que se adaptava bem à maneira da Xana cantar. Foi a escolha óbvia. Apesar de não ter sido feita para Xana, acabou por sê-lo.

Ao regressar optaram por um disco mais electrónico. Depois tiveram um álbum mais intimista. Oito parece ligar-se mais à sonoridade clássica de Rádio Macau...
F – A ideia foi essa. A de fazer um disco em que os sons fossem o mais intemporais. Não remetem para uma época. Podia ter sido gravado há 20 anos.

Há uma sonoridade Rádio Macau?
F – Sim, há. E a verdade é que, quando nós trabalhamos com outras pessoas facilmente nos conseguimos afastar dessa sonoridade. Mas quando trabalhamos como Rádio Macau, acaba por sair assim. Rádio Macau tem uma personalidade própria que, por um lado, até é independente de nós. Quando estamos em conjunto acabamos por soar desta maneira.
X – Como que se cada um tivesse um registo pessoal que, quando nos encontramos, faz nascer aquela maneiro. Aquele registo vem ao de cima. Será a minha voz. Mas também com as letras do Pedro Malaquias e do Vitinha, o modo como o Alexandre toca baixo, o modo como o Filipe intervém nas composições do Flak, o Flak a tocar guitarra. A maneira como o Flak pensa a música para a minha voz...
(continua amanhã)