domingo, março 30, 2008

O amor e a Lei

Luz Silenciosa, dirigido pelo cineasta mexicano Carlos Reygadas, é, por certo, um dos filmes mais enigmáticos, e também mais sedutores, ultimamente estreados entre nós — este texto foi publicado no Diário de Notícias (29 Março).

O cineasta mexicano Carlos Reygadas não deixa ninguém indiferente. Títulos como Japón (2002) e Batalha no Céu (2005) reflectiam a procura de um erotismo insólito, empenhado em desafiar as formas tradicionais de representar os corpos e as suas relações. Luz Silenciosa (apresentado no Festival de Cannes de 2007) é um prolongamento lógico desse trabalho, embora evitando as facilidades formalistas que limitavam os resultados dos filmes anteriores. Trata-se, desta vez, de filmar um convulsivo drama de amor num ambiente de singularíssimas leis e enigmáticos comportamentos: uma comunidade de menonistas, no México, grupo de cristãos anabaptistas que defendem a não violência e o pacifismo. Reygadas filma-os sem nunca ceder a qualquer tom pitoresco ou moralista. Aquilo que o interessa é um sistema de relações em que a percepção do corpo e o entendimento dos desejos está muito distante das normas das nossas vidas urbanas. Daí que Luz Silenciosa se veja como um sedutor testemunho de um mundo que (ainda) acredita na verdade superior da Lei.