A ideia é de J.J, Abrams, o criador das séries Lost e Alias. E surgiu por alturas de uma viagem promocional do seu Missão: Impossível III ao Japão. Ao passar por uma loja de brinquedos, pegou num boneco do monstro Godzilla (mítica figura do cinema de ficção científica dos anos 50, que invadia cidades e as deixava em cacos) e pensou: porque não criar um monstro americano? A memória da cabeça, decapitada, da Estátua da Liberdade no cartaz de Nova Iorque 1997 (não usada no filme, apenas nessa imagem promocional) cimentou o conceito. O segredo, depois, foi a chave do sucesso. O filme nasceu longe dos olhares dos media e da fúria de informação da geração Internet, tendo os produtores e o estúdio conseguido rodar cenas de exterior em Coney Island sem aparato visível e, só depois, criar invulgar burburinho antes mesmo do filme ter sido mostrado pela primeira vez. A informação foi revelada em doses limitadas, repetindo estratégias usadas em filmes como O Projecto Blair Witch e Serpentes a Bordo.
Cloverfield é um monster movie que usa a linguagem das câmaras caseiras, os códigos da era SMS e a ansiedade do pós-11 de Setembro como condimentos. Toma um dispositivo de aparente documentário amador como princípio, e consegue manter todo o filme fiel a essa hipotética gravação. Na sequência da festa, recorre a uma banda sonora de fundo (com Spoon, Gorillaz ou Of Montreal) que sugere traços da caracterização dos protagonistas. Figuras que, essencialmente filmadas depois em fuga, não nunca mais que estranhos em luta pela sobrevivência que uma câmara de vídeo acaba por colocar frente aos nossos olhos.
PS. Versão editada de texto publicado no Diário de Notícias