sábado, janeiro 12, 2008

A música que vem do frio

Passou a leste das atenções do mercado, mas foi um dos mais interessantes discos com gravações de obras do século XX entre os que 2007 fez chegar às lojas. O verdadeiro protagonista deste álbum é o clarinetista sueco Martin Fröst (não confundir com a personagem de ficção do penoso recente filme de Paul Auster). Músico em franca ascensão no panorama internacional, já trabalhou com outros como Mitsuko Uchida ou o Jerusalém Quartet e estreou-se, em 2007, como director artístico do Winter Festival (na Suécia). O seu trabalho como instrumentista já lhe valeu a admiração de compositores contemporâneos, alguns tendo já escrito obras a ele dedicadas, como Pendrecki ou Hilborg. Este disco inclui mais uma obra composta com Martin Fröst em mente para a estrear. Trata-se do Concerto para Clarinete do finlandês Kalevi Aho (n. 1949), composto em 2005 e que Fröst interpretou pela primeira vez em 2006. O concerto, na verdade, é a materialização de um prémio (o Borletti-Buitoni) recebido em 2003 pelo clarinetista. Depois de uma pesquisa, na qual foi fundamental uma colecção de discos sugerida pelo dono da BIS Records (para a qual o músico grava), Fröst usou o dinheiro que ganhou, encomendando a Kalevi Aho um concerto. Encontraram-se em Viena, onde Fröst ia tocar Mozart. Reencontraram-se na Finlândia, em concertos com repertório clássico e contemporâneo. Aí, o clarinetista falou ao compositor de especificidades técnicas do clarinete, bem como de pequenos truques que podem explorar o virtuosismo do seu intérprete. O Concerto para Clarinete nasceu atento às sugestões, e revela-se nesta gravação (à qual assistiu o compositor) uma das mais belas obras da presente década. O disco abre o alinhamento, contudo, com um outro Concerto para Clarinete, este assinado em 1928 pelo dinamarquês Carl Nielsen (1865-1931), uma obra francamente acessível, mas suficientemente intrigante ao ponto de nos cativar sistematicamente a cada nova audição. Neste disco Martin Fröst é acompanhado pela Sinfonia Lahti, dirigida por Osmo Vänskä. Edição BIS, em SACD.

Do grande Norte chega-nos outra interessante gravação de obras do século XX. Ao todo são três obras do sueco Hugo Alfvén (1871-1960), duas delas representando suites criadas a partir de música por si composta para cinema, a terceira sendo uma peça elegíaca em memória de Gustavo II. As suites – Synnove of Solbakken e Country Tale - nascidas de bandas sonoras de filmes pioneiros do cinema sonoro sueco, nos anos 30 e 40, revelam uma relação franca das necessidades narrativas sugeridas pelas imagens com uma série de marcas cenográficas, estas destacando uma personalidade pastoral que acaba por dominar ambas as peças. Edição pela Naxos, com a Norrkröping Symphony Orchestra, com direcção de Niklas Willén.