quarta-feira, janeiro 09, 2008
Afinal a borla... pode vender
O caso discográfico mais mediatizado do ano promete virar case study na história da relação da música com o mercado. Há meses, In Rainbows, dos Radiohead, foi tecnicamente "oferecido" pelo grupo para download no seu site oficial. E não foram poucos, os downloads... Agora, desde 31 de Dezembro, o disco está nas lojas no clássico suporte físico. Ou seja, há um CD, com capa e tudo... Assim como, nas lojas online, há também uma versão digital, a troco do preço habitualmente aí praticado. E o disco, em ambos os formatos, vende. Como vende! Primeiro lugar no top de álbuns inglês. Líder na loja iTunes portuguesa... Ou seja, a "borla" não demoveu os potenciais compradores. Antes, estimulou resposta de aparente "agradecimento", como quem diz que, depois da oferta, agora responde-se, pagando pela música. Isto porque, além de eventuais compradores que, depois de anunciada a "oferta", não optaram pelo download, e esperaram, há quem tenha o feito, gratuito e, agora, esteja a comprar o disco para o ter na prateleira. O caso não é bem igual ao dos Arctic Monkeys, apesar de pontuais semelhanças (estes eram ainda desconhecidos quando, depois das "borlas", viram o seu álbum de estreia transformado em fenómeno de... vendas). Os dois casos contribuem para repensar a relação da "borla" com o negócio da música. É certo que nunca regressaremos a cenários cem por cento "a pagar". Mas fica claro que, cada vez mais, o gesto da oferta (que contraria a pulsão pirata, porque nasce de um outro tipo de relação de quem faz música com quem a ouve) pode ser, mais que um desencorajador de vendas, um estímulo, um aperitivo, um sinal de atenção para com quem ouve música nesta idade da comunicação digital. Não se tome já o modelo como único e garantido, mas é caso para suscitar reflexão. O que não quer dizer que não haja outras ideias a rever na relação da indústria e do Estado com o potencial comprador de música (como os já estafados pedidos para redução do preço dos discos, do nivelamento do IVA com o livro e de um repensar da música nos programas curriculares). Assim como estes sinais interessantes não fazer de In Rainbows um disco mais que, apenas, "bom"...