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Discutir a segurança do nosso quotidiano e, em particular, a instalação de câmaras de vigilância não pode esgotar-se num labirinto de normas sobre o que “deve” ou “não deve” ser observado. Para além das dúvidas legais, importa perguntar como é que a questão do controlo visual dos cidadãos encontra eco na cultura televisiva dominante. De facto, a generalização dos mecanismos de vigilância é inseparável (no sentido em que é contemporânea) do triunfo de um novo enquadramento mediático das relações humanas. O padrão mais “frívolo” dessa conjuntura está no Big Brother, criado por John de Mol e pela sua companhia Endemol. Claro que o programa Big Brother não se pode confundir com um sistema armado de repressão nem com uma ditadura política. Mas há nele um inquietante efeito de habituação: no fundo, os patéticos protagonistas do Big Brother confessam-nos que abdicaram da sua identidade para se transfomarem em cobaias públicas de todas as misérias do género humano. O problema não se esgota, por isso, no maior ou menor número de câmaras nas nossas ruas. É preciso interrogar também o que as televisões nos mostram, até porque a estética e a ética do Big Brother já invadiram muitos telejornais.