Se abrirmos o booklet do vosso último álbum, vemos uma foto de uma janela, ao lado da qual há um exemplar do livro A Night Of Serious Drinking, de Rene Daumal. Podemos ver essa imagem como mais uma citação? Ou seja, uma sugestão de um ambiente, uma temática?
Creio que sim. Era um livro que estava a ler na altura em que escrevi estas canções. A inclusão do livro naquele local procurou ser precisamente essa ideia de sugestão. Goteo do título do livro. Por si só define uma atmosfera. Mas quem ler o livro vai reconhecer que nele se fala muito das peneiras dos artistas.
Acha que os artistas são peneirentos?
Sim, muitas vezes. Os artistas estão em posições invulgarmente confortáveis. Podem fazer coisas incríveis porque são artistas... A história está cheia de exemplos dos excessos que os artistas podem ter porque há quem goste deles. Por vezes as pessoas pensam que, por gostar da obra de um artista, ele será uma pessoa excepcional.
Mas há diferenças abissais, por vezes, entre o artista e a sua arte...
É verdade. Veja-se o caso do Peter Sellers. Gosto muito dos filmes deles, dão uma imagem de um homem bondoso, calmo. Mas, ao que parece, era um tipo egoísta, nada em sintonia com as outras pessoas. Isto mostra que não devemos julgar um livro pela sua capa.
Como é com os Okkervil River? A vossa música traduz os homens que a fazem?
Sim e não. A nossa música reflecte algumas coisas que me interessam e que são importantes para mim. Mas depois penso que muitas vezes preocupo-me mais com a minha arte que com a minha vida. Por outro lado tenho consciência dessa altitude. E, à medida que os anos têm passado, tenho-me tentado adaptar e ajustar. Tenho tentado ser uma pessoa melhor e mais integrada. E menos uma pessoa apenas concentrada no seu trabalho...
E não é habitual essa concentração de atenções no trabalho quando se começa uma carreira?
Estar concentrado na arte que fazemos é a melhor forma de evitar que nos foquemos outras coisas.
Desfocaria as ideias?
Sim. A noção de focagem em algo concreto, para mim, tem quase características patológicas. Estou sempre concentrado em apenas uma coisa.
Nos últimos tempos o vosso perfil mediático tem crescido de forma, talvez, inesperada. Lou Reed afirmou-se vosso fã, inauguraram o Highline Ballroom, tocaram no programa de Conan O’Brien... Como se sentem?
Tem sido óptimo. Temos crescido lentamente. Tenho visto muitas bandas a editar um primeiro álbum que é logo alvo de muita atenção, e que acabam depois por sentir uma pressão enorme. E depois desmoronam... Muitas vezes esses primeiros álbuns são tão elogiados que acabam por dar uma perceopção errada das coisas, desproporcionada. Nunca estivémos nessa posição. Por vezes sentimos alguma infelicidade pelo tempo que este processo tem levado. Mas por outro lado sinto-me melhor por ter sido assim. Todas as bandas têm um caminho, e este é o nosso.