quarta-feira, dezembro 26, 2007

Em conversa: Nick Mason (3)

Recentemente reuniram-se para tocar no Live 8. Como recorda esse dia?
Creio que todos adorámos o momento. Foi muito bom podermos tocar juntos novamente, e para um público tão vasto, que nos queria ver. Não há nada como fazerem-nos sentir amados para passarmos um bom momento. Foi também importante fazer algo pelo bem de outras pessoas, o que fez transcender divergências que tivéssemos tido. E pessoalmente foi também muito bom poder mostra aos meus filhos que podemos comportar-nos como adultos, de vez em quando.

Tinham, ao reunir, a certeza que aquele seria um momento que não se repetiria?
Sim.

Não sente saudades de estar em palco com os Pink Floyd?
Gostaria de falê-lo de novo. Até mesmo amanhã, se fosse possível... Se todos o quisessem fazer, também.

Esteve no concerto de David Gilmour no Albert Hall. Bowie, fã confesso dos Pink Floyd logo em 1967, recriou dois temas clássicos vossos...
Gostei sobretudo de o ver a recriar o Comfortably Numb. Fez um trabalho fantástico, uma verdadeira versão. Uma reinterpretação...

Quem vos influenciou como banda?
Várias pessoas... A excitação de ser performers creio que veio dos Cream. Tenho memórias muito vividas de os ver a tocar ao vivo e de pensar que era aquilo o que queríamos fazer. Depois os Beatles. Porque eles transformaram a indústria discográfica. Tornaram possível outro tipo de relação com o estúdio, que até então não existia. Antes os estúdios eram entregues às bandas por uma tarde para fazer um single, e já estava...

E nos anos 70, como foi viver sob a revolução punk, que criticava as grandes bandas, como os Pink Floyd?
Por essa altura estávamos a atingir um certo patamar de conforto e não fomos verdadeiramente afectados. De certa maneira também acabámos influenciados. O Animals tem um influência punk. Na altura estávamos a fazer grandes concertos, a esgotar concertos... E não sentimos a revolução punk a atacar a nossa base de fans. Essa base limitou-se a fragmentar-se, a descobrir novas escolas... Em retrospectiva, penso que não nos sentimos intimidados...

A intensidade da revolução pode comparar-se ao que também houve de revolucionário nos dias do psicadelismo, em finais de 60?
O que se passa é que, à medida que se envelhece, o que fizémos nos anos 60 parece absolutamente certo e o que aconteceu no punk, por seu lado, uma idiotice...

Mas não pensa que, como os Beatles mudaram a indústria discográfica nos anos 60, também o punk o fez em 70, abrindo sobretudo espaço a operações independentes?
Sim, foi mais um veículo que durou algum tempo. Mas depois as pequenas companhias acabaram engolidas pelas grandes.

Porque não abriram os Pink Floyd a sua própria editora?
Penso que o deveríamos ter feito. E só o não fizémos porque nos sentíamos muito confortáveis na EMI. E a EMI até nos deveria ter ajudado a criar a nossa própria etiqueta... Mas tinhamos tanto para fazer... Ter de, além disso, gerir uma editora... E, ainda por cima, nem sempre havia consenso dentro da banda.

É preciso consenso para uma banda ter uma vida longa?
Sim, creio que sim. Caso contrário dada um acaba a desejar fazer uma coisa sua.

Nos Pink Floyd sempre houve um líder evidente.
Consenso até para seguir cada líder...

A banda teve três líderes. Syd, Roger, David... Diferentes entre si, Mas nunca deixou de ser Pink Floyd...
Em primeiro lugar há a questão do som, que cruza toda a obra. Isso não apenas connosco. Veja-se o caso de uns Fleetwood Mac. Quando pensamos quantas pessoas passaram pela banda, ao longo da sua história...

Quem será o público desta caixa comemorativa que agora editam? Os vossos velhos admiradores?
Creio que sim, porque já desistimos de pensar que os miúdos compram álbuns. Basta-me entrar nos quartos dos meus filhos e reparo que não têm um único CD! Têm apenas um iPod. Nem posso acreditar que desapareceu tão rapidamente o gosto por coleccionar discos.

Acha que a música ainda é importante hoje em dia?
Ainda é muito importante para muita gente, sim. Infelizmente há o esquecimento. Há coisas pelas quais se vai perdendo interesse... Quando me perguntam o que ando a ouvir, digo que ainda escuto as bandas que ouvia em 1967 e 68. Agora é também verdade que, hoje, há muitos miúdos a gostar de música. Há milhares de miúdos a fazer bandas! Quando eu era miúdo o rock’n’roll era mal visto pelo departamento musical da escola. Quando os meus filhos passaram pela escola houve uma batalha de bandas, com uma sete ou oito a concorrer. E todos muito capazes...
(conclusão da versão integral de entrevista originalmente publicada no DN)