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É uma desilusão o álbum de versões de José Afonso recentemente editado por
Cristina Branco. Mesmo mais consistente que a multidão de homenagens a José Afonso que o ano escutou, de aplaudir pela opção de não cristalização da voz (e obra) num só registo e caminho, e sobretudo interessante pela abordagem jazzística dos arranjos de Ricardo J. Dias,
Abril revela, por um lado, um alinhamento previsível que, salvo muito pontuais excepções, se faz de mais abordagens aos “clássicos” mais "incontornáveis". Falta, assim, um jogo de mais profunda relação de quem homenageia com quem é homenageado, falta o encontrar de quem canta em quem é cantado, a procura das “suas” canções de referência e não apenas das que o tempo elegeu como as mais populares. Depois, a voz de Cristina Branco conhece aqui inesperada irregularidade na abordagem às canções, ora segura (como em
Canto Moço ou na
Avenida de Angola), ora perdida em excessos de agudos (como no
Menino d'Oiro ou
Senhor Arcanjo) que não mostram nem o seu melhor nem a mais interessante forma de abordar estas canções. A milhas, portanto, dos melhores discos da cantora.